24 May 2011
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Annapurna dia 3: Nascer do sol em Poon Hill e a descida até Tadapani

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

É dificil definir quando foi o final do segundo dia e o incio do terceiro, pois tivemos que acordar as 3 da manha pra subir a trilha de 2:30 horas até Poon Hill, que é tipo um “mirante” de onde é possivel ver todas as montanhas da cordilheira Annapuran, e ápice da nossa viagem!

Poon hill nem é tão alto assim, são apenas 3.200 metros de altitude, mas geograficamente esta tão bem localizado dentro do vale do Annapurna, que Poon é o unico lugar em todo circuito onde é possivel ver todas as outras montanhas.

Então eu sabia que o sacrificio ia valer a pena!

Mas foi dificil!

Depois de mais ou menos 5 horas de sono, definitivamente não foi suficiente para me recuperar das 8 horas de trilha subindo escadarias no dia anterior… e por isso eu acordei me sentindo muito, mas muito cansada!

O unico consolo era que pelo menos acordamos com um ceu super ultra estrelado, e nenhum vestigio de nuvens nem da chuva monstruosa que pegamos natarde/noite anterior!

Então mais 2 horas de escadaria acima depois, na total escuridão e muito frio, chegamos no topo de Poon Hill poucos minutos antes de sol dar o ar das graças nos Himalaias!!

Ficamos lá em cima algumas horas e cerca de 700 fotos de recordação!

Mas nem tudo foi perfeito… a medida que o sol foi subindo no horizonte, as nuvens foram chegando e ligeiramente atrapalhando a paisagem…

Realmente lá de cima a vista é algo impressionante, e foi o momento em que realmente me senti NO Himalaia. Não apenas vendo os Himalaias como parte da paisagem, mas estando lá, mesmo.

É dificil até acreitar que exista no mundo qualquer outra coisa que não sejam montanhas gigantes cobertas de neve! As montanhas se estendem até onde os olhos conseguem ir, e a cada vez que as nuvens iam se movendo, novos picos e novos vale iam surgindo…

Entre os picos vistos lá de cima estão por exemplo 8,091m Annapurna I, Nilgiri (7,061 m), Machhapuchchhre (6,993 m) e Dhaulagiri I (8,167 m), que estão entre os pontos mais altos do planeta terra!

Eu só pensava que queria ficar lá em cima pra sempre!

Mas né, a cada minuto que ficavámos lá em cima tirando fotos, o frio ia aumentando, o dia ia correndo e o guia começou a nos lembrar que ainda tinhamos uma loooooonga descida (6 horas) até Tadapani.

Então descemos de volta pra Ghorepani, pra finalmente comer alguma coisa, terminar de arrumar nossas mochilas e seguir viagem.

Mas pelo menos, pra compensar,a trilha do dia foi otima!

Tivemos uma subida de mais ou menos 1 hora, e as 4 horas seguintes foram relativamente planas, caminhando no topo da montanha, a caminho do vale seguinte.

E o tempo bom durou por boa parte da trilha, oque garantiu as melhores fotos da escalada até então!

Mas a alegria durou pouco, e a medida que o dia foi avançando as nuvens foram chegando e esfriando nossa caminhada…

Nós sabiamos que o dia ia ser cansativo, e o nosso guia relaxou um pouco o passo. Então pudemos caminhar com calma, sem grandes pressas, parar pra descançar em alguns dos vilarejos que cruzamos, e tentar aproveitar e curtir um pouco do dia.

Mas a verdade é que não tem como melhorar nem amenizar o cansaço de um dia como esse… depois de dormir 5 horas, acordar as 3 da manha pra duas horas de caminhada, e depois ainda andar mais 6 horas…

Eu queria parar pra descansar toda hora, mas cada vez que a gente dava uma paradinha, eu caia no sono! Em qualquer lugar.. sentada numa pedra, esperando o almoço chegar, encostada numa arvore…. Foi horrivel e eu não via a hora de chegar logo no alojamento!

Mas conseguimos chegar em Tadapani a tempo de escapar da chuva!

Tadapani é um vilarejo que tem mais ou menos umas 3 ou 4 casas e nada mais!

E o legal disso foi que as unicas Tea Houses da cidade estavam lotadas, então tinha bastante gente conversando e jantando no salão ao mesmo tempo, e mais uma vez, foi super legal conhecer alguns de nossos companheiros de trilha (e conheçemos mais pessoas que acamos encontrando e reencontrando ao longo doa dias).

 

 

 

Adriana Miller
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23 May 2011
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Burocracias e papeladas para trekking no Annapurna

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

O Nepal é inteirinho no meio da cadeia dos Himalaias, sem acesso a mar, planices nem nada do tipo. E boa parte do pais são areas protegidas, parques naturais e afins, que ajudam a regular o fluxo de turistas e controlar os impactos ambientais na região.

Então, não é coincidencia que todas as areas de trekking ficam justamente dentro dessas areas de proteção ambiental, e portanto é terminantemente proibido fazer qualquer tidpo de caminhada, passeio ou trekking sem as autorizaçoes e papelada oficial.

Como nós fizemos nosso trekking atravez de uma agencia não tivemos que fazer nada disso pessoalmente, mas o processo não é dificil, complicado nem caro, então não tem desculpa!

O principal motivo é mesmo a segurança. Os inspetores dos parques ambientais precisam saber quem voce é e onde esta ao longo de seu trekking, pois caso aconteça algum acidente ou emergencia, essa é a unica chance de socorro já que os vilarejos não tem hospital, pronto socorro, nem nenhuma estrutura de nada (nem telefone e muito menos nem internet!).

Mas outro motivo tanto (ou até mais) importante quanto é monitorar o impacto no ambiente e na população local. A região do Annapurna tem cerca de 100.000 habitantes, divididos em centenas de pequenos vilarejos, e recebem cerca de 36 mil trekkers por ano.

E como a maioria dessa população etnica depende economicamente desses visitantes, é muito importante que a região seja sustentavel, e que dure por muitos e muitos outros seculos.

O orgão que regula tudo isso no Nepal é o National Trust for Nature Conservation (NTNC), e na região do Annapurana, o orgão regional (que trabalham em parceria) é o Annapurna Conservation Area Project (ACAP), que tem postos de inspeção ao longo da trilha no Annapurna, e escritorios em Kathmandu e Pohkara, e as autorizações e sua “carteirinha” só pode ser feita lá mesmo, pessoalmente (ou por alguma agencia, que fazer em seu nome).

 

O primeiro passo é a carteirinha de entrada, ou o “Entry Permit”, que custa 2.000 Rupees Nepaleses (cerca de 20 dolares), e além de identificar o trekker, tambem identifica a agencia, guia e/ou carregador que vai viajar com voce (pelo que andei lendo, não é permitido escalar completamente sozinho, por questão de segurança).

Mas o mais importante (e é oque vão checar e carimbar a cada inspeção) é o “passaporte” TIMS (Trekker’s Information Management System), que funciona como se fosse um visto pra entrar na area de conservação do Annapurna, e além da identificação do trekker, indica tambem exatamente qual parte da trilha voce vai fazer, e quais checkpoints vai passar.

 

Existem dois tipos de TIMS diferente, e são divididos entre os turistas que entram no parque acompanhados por guias e/ou carregadores (seja em um grupo, ou como no nosso caso,  num grupo independente) que ganham o TIMS azul, e os turistas que se aventuram sem acompanhamento local/profissional, e carregam seu proprio equipamento e montam seu proprio roteiro, que tem o TIMS verde.

Os preços do TIMS variam de região pra região do pais, e quem pretende escalar de verdade (ou seja, escalar até algum cume) precisa de uma autorização (e preço) especial.

Mesmo pra quem pretende fazer trekking totalmente independente, pode tirar suas autorizações com ajuda de uma agencia, que ajuda a simplificar o processo.

 

 

Adriana Miller
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23 May 2011
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Annapurna dia 2: de Tirkhedunga a Ghorepani

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

O segundo dia foi sem duvida alguma o pior, mais longo e cansativo dia do trekk – e que infelizmente e consequentemente impactou todo os outro dias!

E foi um dia com pouca coisa pra falar pois passamos o dia todo fazendo exatamente a mesma coisa! Subindo escadas!

No total foram praticamente 8 horas seguidas subindo degraus e escadarias vertiginosas na beirada das montanhas.

Mas neh, como tudo nessa vida, um passo apos o outro!

O dia comecou lindo, com sol e otimas paisagens, e mais uma vez chegamos a conclusao que o melhor clima pra caminhadas eh quando esta nublado e ate mesmo com neblina, pois ameniza um pouco o calor do esforco do exercicio fisico…

Fizemos algumas paradas estrategicas para foto & oxigenio ao longo do dia, mas o guia na dava moleza, e sabia que quanto antes chegassemos me Ghorepani, melhor. Alem disso ele ficava repetindo incansavelmente que o “clima no Himalaias eh imprevisivel” e nao era porque estava sol naquele momento do dia, que faria sol o dia todo…

Na metade do dia paramos pra almocar no vilarejo Uleri (o bom de viajar com os guias locais eh que eles conhecem todas essas familias, entao sabem exatamente quam cozinha bem e quem cozinha mal, e tivemos refeicoes incriveis todos os dias!) e foi mais ou menos assim: a “mae” da casa botou a mesa pra gente e nos mostrou o cardapio. Decidimos oque queriamos comer (as opcoes sao pouquissimas, e acabamos comendo basicamente a mesma coisa todos os dias), e entao ela desceu na horta pra colher os ingredientes do nosso almoco e comecou a cozinhar tudo ela mesma no fogao a lenha da casa!

Nunca me senti tao saudavel na vida!!

Eu vi ela tirando da terra as batatas e a couve, 3 minutos antes de entrar na panela! Eh ou nao eh incrivel!?

E enquanto esperavamos a comida, a profecia do Deepak, nosso guia, se materializou: de um segundo pro outro comecou um vendaval com umas nuvens pretas de dar medo! Depois vieram os raios e trovoes, e quando a comida ficou pronta, ja estava caindo um temporal!!

Entao aprendemos o verdadeiro significado do ditado “quem ta na chuva eh pra se molhar”, e depois do almoco colocamos nossas capas ipermeaveis e seguimos nosso caminho! Nesse ponto em diante, ainda tinham cerca de 4 horas de caminhada!

A chuva deu uma aleviada, mas a medida que iamos ganahndo elevacao e ficando mais e mais altos na montanha, o tempo foi ficando cada vez pior, e voce jurava que um dos raios iam cair na sua cabeca! Estavamos Literalmente DENTRO da nuvens!!

Ate que um novo temporal chegou com toda forca! Mas chovia tanto, mas tanto que nao tivemos escapatoria e nos refugiamos numa tenda/curral que apareceu pelo caminho…. e ali ficamos plantados por cerca de 1 hora enquanto o mundo desabava la fora! Mas era muita agua! E a agua foi se transformando em gelo, com umas bolotas de granizo de dar medo!

Mas nesse ponto do dia, ja estavamos tao pertinho (faltavam umas 2 horas so) do vilarejo final, que juntamos todas as nossas forcas, e com chuva ou sem chuva seguimos a trilha!

E nao sei se foi a chuva, se foi o cansaco das 6/7 horas anteriores…. sei lah, soh sei que a reta final pra entrar em Ghorepani foi torturosa! O degraus eram maiores e mais largo, e portanto mais dificeis e cansativos de andar, o chao estava molhado e elameado, e a sensacao geral eh um misto de calor (por dentro da roupa de chuva) com o vento frio da chuva e dos Himalaias.

E quando finalmente chegamos a Ghorepani, foi praticamente cena de filme… dava pra ver bem nitidamente que a vila ficava no topo de uma montanha, bem de frente pro Annapurna, com suas casinhas pintadas de azul e tal…

Entao la estavamos nos dois tranquilamente tirando fotos, e com aquele alivio de “ah…. chegamos! Acabou!” quando eu comecei a ouvir um barulho ensurdecedor! Por algumas fracoes de segundos ficamos nos olhando do tipo “que barulho eh esse?!”, e ainda estavamos no meio da pracinha, a uns 100 metros da nossa Tea House. Mas o temporal se aproximando era tao forte e violento, aquela massa cinzenta de agua e pedras de gelo, que o barulho ensurdecedor que estavamos ouvindo era a chuva e o granizo batendo nas pedras e no telhado das casas!

Entao foi uma coisa assim camera lenta…. saimos correndo em direcao ao alojamento, com o guia na janela fazendo sinal de “corre logo”, ainda com nossas mochilas nas costas e o barulho da chuva chegando cada vez mais perto!

Quando finalmente chegamos na parte coberta da casa, ja sendo molhados pelos primeiros pingos que tinham nos alcancado, caimos na gargalhada!! Foi muito engracado! Cena de filme mesmo, com todos os outros guias e hospedes assistindo da janela, e torcendo pra gente conseguir fugir da chuva a tempo!! E o Aaron ainda comentou: Esse sim seria um momento perfeito pra ter feito um video pro Blog! Hahahahah

Entao o resto da noite ficamos na beira da lareira no salao principal da Tea House (que dessa vez era bem grandona), onde jantamos e nos preparamos pra sair de casa no dia seguinte as 3 da manha!!

Adriana Miller
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