24 May 2011
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Tea House Trekking: Hospitalidade Nepalesa

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

A principal diferenca entre fazer esse trekking no Nepal e oque fizemos na Tanzania – e tambem oque me convenceu a querer ir! – foi justamente a possibilidade de ficar hospedado nos alojamentos locais, as chamadas Tea Houses e nao ter que acampar.

Eu nao tenho nada contra acampar nao, mas nao da pra negar que eh impossivel conseguir dormir bem e recuperar o corpo das horas interminaveis de caminhadas dormindo no chao de um tendinha minuscula. E nao vamos nem mencionar a falta de banho…

Entao durante todo processo de pesquisa sobre as trilhas e roteiros, livros e foruns que falavam sobre o Nepal, todos davam otimas referencias aos trekkings que usam as Tea Houses e desencorajavam qualquer tipo de acampamento.

Eu achei bem dificil achar informacoes concretas e reais sobre oque eram e como eram as tais das Tea Houses, pois tudo que lia era que eram “otimas” e todo mundo “recomendava”, mas nao conseguia achar umas respostas objetivas, do tipo “Tem agua quente?”, “Tem energia eletrica?”, etc.

Entao aqui esta meu guia pratico de Tea House Trekking no Nepal, que eu adoraria ter lido antes da minha viagem!

As Tea Houses, que nao tem nada a ver com “casas de cha”, nada mais sao doque casas de familias Nepalesas que vivem nos vilarejos ao longo das trilhas do Circuito do Annapurna (mas que sao encontradas em todas as outras regioes), e que alugam seus quartos para turistas.

A qualidade e nivel de “luxo” ocidental disponivel nas Tea Houses varia bastante de uma pra outra, de uma vilarejo pro outro (e quando digo luxo eu estou me referindo a ter uma lampada na parede pra ler meu livro, e nao Spa nem aquecedor para as tolhas de algodao Egipcio!).

A grande maioria dessas casas sao na verdade bem pobres e humildes, e voce sera nada mais nada menos que um hospeda da familia.

Uma das inumeras vantagens eh justamente poder fazer parte e entender melhor como essas pessoas vivem, e foi uma licao de vida ser recebida com tamanha hospitalidade e carinho, vindo de pessoas que nao tem, literalmente, nada.

90% das familias que recebem turistas sao na verdade compostas basicamente por mulheres, idosos e criancas. O Nepal eh um pais pobre e sem recursos ou industrias (alem do turismo) entao os homens migram pra outras partes do pais, ou para paises vizinhos para ganhar dinheiro ao longo do ano, e deixam a familia pra tras, cuidando da casa, do terreno, das galinhas e das criancas. Entao essas mulheres (e suas familias) dependem integralmente da renda gerada pelo turismo pra se manterem durante o ano – elas lavram a terra durante o dia (a agricultura eh toda apenas de subsistencia), lavam roupa nas pedras do rio, cuidam dos animais, dos filhos (que sao muitos), dos idosos e no fim do dia, abrem suas portas para os turistas, oferecendo os melhores quartos da casa, a comida que veio direto da terra e (quase sempre) um otimo papo (quase todos falam pelo menos o basico de Ingles).

Todos os precos sao estabelecidos pelo governo e pelo NTNC e ACAP, assim evitam ganancia, discrepancia de precos, extorcoes e barganhas. Os precos sao todos iguais, e vao aumentando a medida que vamos chegando mais alto e ficando mais longe da civilizacao. Mas ainda assim, pagamos cerca de 1 a 5 dolares por noite de acomodacao, e de 1 a 3 dolares por refeicao.

Chega a dar uma do no coracao pensar que estavamos pagando apenas 1 dolar pra dormir na casa de alguem, e que aquela “mae” ia ter que lavar os lencois a mao, laaaaaa embaixo no riacho gelado, e que o 1 dolar do jantar nao paga o esforco e trabalho de manter uma horta e colher todos os ingredientes de acordo com oque os turistas escolhem comer.

Mas esses sao os precos estabelecidos pelo governo como sendo “justo” para manter o equilibrio socio-economico e ambiental da regiao. Com os precos tabelados, oque se sobresai eh justamente a qualidade do servico (entao como os guias ja conhecem todas as familias, eles sabem quem cozinha melhor em cada vila, por exemplo), e na alta temporada garantem ocupacao maxima das casas e quartos.

Uma maneira de ajudar a dar uma graninha extra eh dar gorjetas (que sejam proporcionais ao servico pago), e consumir outros produtos que eles tenham pra oferecer. Entao eu sempre bebia cha no final das caminhadas, bebiamos cerveja e coca cola – que sao cobradas a peso de ouro, mas eh uma maneira justa de incrementar a renda da familia.

Eu fiquei impressionada de como o governo Nepales leva a serio essa coisa de nao incentivar barganhas nem “esmolas”, e evitar que justamente o excesso de dinheiro tenha na verdade um impacto negativo na populacao etnica que vive nas montanhas. Eles querem melhorar a qualidade de vida da populacao nativa dos Himalaias, mas nao mudar completamente o estilo de vida que essas familias levam a milhares de ano – e que tem sido impactada pouco a pouco nos ultimos 100 anos com a chegada dos montanhistas ocidentais.

Nossa experiencia nao poderia ter sido melhor! Eu AMEI cada uma das casas que ficamos, por mais humildes que fossem, e tivemos experiencias bem diferentes a cada dia, que variaram entre dormir num quarto sem luz nem vidros nas janelas e tomar banho de balde, ateh ter banheiro particular dentro do quarto com agua quente e cerveja ou Coca-Cola geladinha acompanhando o jantar!

E isso fez tooooda diferenca no bem estar generalizado ao longo da viagem, pois tomar um banho quente no fim das 8 horas de escadaria (e até lavar o cabelo! Apesar de que só aconteceu uma unica vez…), e fez com que eu aproveitasse e curtisse a experiencia muito mais.

Mas por mais que as familias estivesse alugando os melhores da casa, os quartos alugados não são exatamente a casa deles. Geralmente a familia vive toda num unico quarto, conectado a cozinha da casa (para usar o fogão a lenha como aquecimento), mas constroem quartos no andar de cima das casas.

Os quartos são o mais basico do basico, com camas, 1 porta, 1 janela, 4 paredes e teto. E só.

A cama tem colchão, mas é preciso levar seu propio saco de dormir, que tem que ser apropriado para estação que voce estiver vsitando o Nepal. As casas não aquecimento nem vedação, e a temperatura dentro e fora é exatamente a mesma.

Os banheiros são sempre comunitarios entre todos os quartos (e geralmente divido com a familia que mora por lá tambem) e são no estilo Asiatico, de apenas um buraco no chão. Só tivemos banheiro com privada uma unica vez (que foi justamente na Tea House “chique” de Ghondruk, que tinhamos banheiro no quarto). Os chuveiros (que geralmente tambem é só um) também são divididos, e caso vc queira banho quente, eles combram cerca de 1 dolar, pra compensar a energia usada (ao longo das caminhadas, nós viamos os locais tomando banho nos riachos e fontes na trilha, e nunca nos chuveiros das casas).

Quanto a energia eletrica, esse é o bem mais escasso dos Himalaias. Algumas vilas tinham energia solar, e outras usavam gerador a kerosene ou coisas do tipo, então o uso é apenas para o extremanente necessario.

As areas comuns da casa tem lampadas e iluminação (tipo cozinha, sala de jantar e tal), e as vezes até TV e geladeira, mas os quartos tem apenas uma lampadazinha em cima da cama, que geralmente não era suficiente pra iluminar um livro, e que só é “conectada” quando a noite cai totalmente e fica tudo um breu. Então eles conectam a energia eletrica da casa toda por algumas horas, e assim que todo mundo vai dormir (que é sempre cedo), a energia é novamente desligada para o resto da noite.

Eu achei que teriamos acesso a tomadas, pra carregar camera fotografica e tal, mas foi pura ilusão. Geralmente as casas tem tipo UMA tomada, onde estão conectadas a geladeira, TV, e afins. Acho que no caso de uma emergencia, eles até deixariam (e cobrariam) para alguem usar sua tomada e energia eletrica, mas isso seria uma grande inconveniencia pra casa inteira, entao melhor levar bastante baterias extras ou apetrechos como o Pebble, que prolongam a vida de sua tecnologia.

Como nossa viagem foi relativamente curta (em comparação com o circuito ompleto do Annapurna, que dura 25 dias…) minhas 3 baterias deram conta do recado, mas se ficassemos mais uns 2 ou 3 dias sem acesso a energia eletrica, as fotos teriam sofrido um pouco…

Eh incrivel como essas experiencias de viagem mudam a maneira como vemos o mundo e nossa propria vida. Acho que foi justamente por isso que eu voltei de viagem cheia de energia, e cheia de disposicao de organizar a vida, arrumar o quarto, desfazer mala e afins.

Quanto voce pensa tudo que aquelas familias passam pra conseguir sobreviver ao longo do ano, as criancas que sobem as escadarias durante horas e horas ao longo do dia pra conseguir chegar nas escolas, as mulheres que cuidam da terra, lavam roupa no rio e parem seus filhos em casa (por falta de escolha, nao por opcao propria com acompanhamento medico como acontece na Europa), e os homens que sao forcados a migrar e abandonar suas familias por meses e anos a fio, pra virar imigrantes mal pagos em outras ciadades e paises…

Ver tudo isso “ao vivo” e ainda assim ser recebido de bracos abertos e com toda paz e energia que os Nepaleses tem, realmente nao da pra querer reclamar da vida, dah?

Adriana Miller
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  1. Te - 31/05/11 - 01h52

    Dri, otimas reportagens, eu leio tao pouco acerca do Nepal,da vida, da gente dos costumes q foi assim um prazer inesperado, e o seu trabalho e c/o sempre 5*****. Parabens!

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    • Adriana - 31/05/11 - 09h58

      Obrigada Te! Realmente o Nepal eh um pais que ainda nao foi descoberto pela “massa” turistica, mas que tem muita coisa boa pra oferecer!

      Responder