Nao resisti a piadinha, pois realmente nao existe cidade tao caotica quanto Cairo!
Quando me falavam isso eu pensava quase que automaticamente: Porque voce nunca foi a Hanoi! Pois sempre achei que nenhum outro lugar do mundo seria tao, mais tao confuso quanto Hanoi.
Mas eu estava enganada, e jah nos primeiros momentos andando pela cidade formei minha opiniao! Cairo ate que tem bastante coisa pra oferecer, mas eh o tipo de cidade, que basta uma vez na vida!
Pra comecar que a cidade eh extremamente populosa, e qualquer esquina tem a capacidade de desafiar as leis da fisica: 5 pessoas numa lembreta? Cabe! 5 carros numa rua de mao dupla? Cabe! Camelos, charretes, mulas, carrinho de bebe, kombi, onibus e taxi, todos tentando passar pelo cruzamento ao mesmo tempo? Tambem cabe!
Nosso albergue era bem no centro do Cairo, oque foi uma mao na roda, pois estavamos a 5 minutos do metro (que evitou perder horas no transito louco da cidade) e tambem andando do Museu do Cairo, com muitas opcoes de restaurantes, lanchonetes, famacias e supermercados a poucos passos.
Mas por outro lado isso tambem significou que estavamos no centrao do burburinho, e uma coisa que os “Cairanos” nao sao mesmo, eh ser timido!
Sao milhoes de pessoas disputando cada centimetro da calcada, calcadas estreitas, cheias de pedintes, ambulantes, latas de lixo e afins, e a cada pessoa que passava por nos nos abordavam ou falavam alguma coisa, variando do “welcome do Egypt!” ao “taxi! taxi!”, “where you go sir?”, “cheap price for you!”, “lucky man!” e ofertas de bons precos em lojas, taxis, charretes, e oque mais fosse possivel nos vender (inclusive alguns camelos pela sua mulher!)!
Apesar da seguranca, poder andar pra cima e pra baixo com cameras fotograficas pendurada no pescoco e outras atitudes “gringas” que evitamos em outros paises, no Cairo uma palavra que descreve bem como nos sentiamos o tempo todo eh: vulneraveis.
Nao existe a nocao de espaco pessoal, as pessoas sao diretas demais, e aos poucos nos tornamos extramamente grossos com todos a nossa votla. Qualquer sorriso ou um simples “nao obrigada” eh a deixa perfeita pra te seguirem pelos proximos 5 quarteiroes enchendo o saco e oferecendo alguma coisa! Entao pra conseguir chegar do ponto A ao ponto B, tinhamos que ignorar muito vendedor pelo caminho, e alguns “nao estou interessado!” com voz bem grossa!
Alem disso, ao contrario da Asia, os Egipcios te encaram! Encaram, analisam, olham de cima a baixo, e nao teem a menor cerimonia de sacar o celular da bolsa e tirar uma foto sua, na cara de pau!
Eu nao sei voces, mas minha primeira reacao foi de choque! E pensava, deve ser assim que uma celebridade se sente o tempo todo! hahahaha! E nao podem te ver com a camera apontada pra algum lugar que vao se oferecer para posar pra voce (que geralmente termina em um pedido de dinheiro) ou simplesmente se jogam na frente, estragando sua paisagem!
Mas apesar da nossa localizacao central, achei “navegar” pela cidade bem dificil.
Muitas ruas nao tem nome, e quando tem, estao escritas em Arabe, e tuso isso sem a minima organizacao urbana. Sabe aquela intuicao de que se vc seguir em frente, depois virar a direita e pegar a segunda rua a direita, vc chega em algum lugar? Essa coisa nao existe no Cairo, entao o medo de nos perdermos era constante!
Isso sem falar que 95% das esquinas nao tem sinal de transito, ou se tem, nao funcionam! Entao eh cada um por si! Olhar pra um lado, e depois pro outro antes de atravessar, pode ateh ajudar, mas na verdade soh aumento o medo de morrer atropelado!! Nos horarios de rush, as esquinas mais movimentadas tem um guardinha tentando organizar um pouco as cosias, mas tenho minhas duvidas sobre a eficacia…
Enquanto qualquer encruzilhada eh aquele bando de carro velho (todos os carros sao muito velhos!! Pegamos varios taxis que dava pra ver o motor embaixo do painel!! Acho que o ultimo carro vendido/comprado no Cairo foi 1967!) buzinando enlouquecidamente, desviando de outros carros, outras motos, pessoas, camelos e mulas de carga, tentando se enfiar em cantos ou por cima das calcadas pra passar na frente de outro carro que esta fazendo a mesma coisa, isso tudo enquanto uma familia de 7 tenta atravessar a rua (fora da faixa de pedreste, logico!) carregando as sacolas de compra, o carrinho do bebe e a cadeira de rodas da avo.
Sentiu o drama?
Oque nos salvou mesmo foi o metro – facil de usar, extremamente barato (1 Libra Egipcia em qualquer linha, qualquer direcao e qualquer distancia), com funcionarios que falam ingles e placas e mapas informativos em Arabe e Ingles.
Uma cosia interessante no metro do Cairo eh que os vagoes sao separados entre homens e mulheres.
Mulheres acompanhadas podem andar no vagao masculino, mas homens nao podem nem sequer ficar parados no lado feminino da plataforma!
No nosso primeiro dia na cidade, pegamos o metro pra ir ateh Gize e reparamos que eu era a unica mulher no vagao e foi a atracao principal do lugar. mas na hora achamos que aquele mundarel de homens estvaam me olhando simplesmente por ser turista, e porque eles sao cara de pau e encaram mesmo.
Ai no dia seguinte, estavamos na plataforma, juntos e soh tinham mulheres em volta. Umas senhoras ficaram encarando o Aaron e falando elaguma cosia em Arabe, que nao conseguimos entender. mas quando o trem chegou, e o Aaron comecou a caminha em direcao a porta, a mulherada se juntou pra barrar a entrada dele, e a mesma senhora invocada (que nao soh estava usando uma Abaya dos pes a cabeca, daqueles que cobrem ate os olhos, mas ainda estava de luvas, cobrindo a pela das maos!) levantou os dedos fazendo sinal de “nao” e proibindo a entrada dele!
Tudo aconteceu numa fracao de segundo, nos demos uns passos pra tras, tentando entender oque tinha acontecido, enquanto as outras milhares de pessoas na plataforma do metro nos encaravam de cima a baixo, e enfim vi a placa que separa a estacao entre homens e mulheres.
Mas posso falar? Ateh que gostei de andar num vagao soh com mulheres! Sem me preocupar se tem alguma marmanjo me manjando demais, chegando perto demais, preocupada com minha bolsa e afins. E achei que ser encarada por mulheres, e ter minha foto tirada (sem autorizacao, claro) por meninas adolescentes, bem mais tranquilo doque por um Egipcio barbado!
A pobreza tambem eh dificl de ignorar, e a quantidade de pedintes, mesmo que nao seja comparavel com as cidades brasileiras, por exemplo, estao em todos os lugares onde os turistas tambem estao.
Outra coisa que me chamou demais a atencao foram as casa semi-acabadas – a cidade INTEIRA parece uma grande favelona, sem pintura, sem telhado, de reboco, nem nada. Predios e casa inacabadas, alguns habitados, outros nao.
Mas na verdade, depois descobrimos que a falta de reboco ou tinta nas paredes nao tem nada a ver com a pobreza da populacao e sim com a corrupcao e burocracia do governo! No Egito, qualquer cada ou predio completo (com acabamento) paga 40% a mais de imposto urbano e de propriedade! nao eh um absurdo?
Entao pra burlar o sistema, as pessoas constroem suas casas e deixam o telhado inacabado (nao chove mesmo!), nao passam reboco nas paredes, nem pintam nada por fora.
No fim das contas, eh uma economia e tanto pra familias egipcias e soh vimos casas/predios pintados quando chegamos em Sharm El Sheikh, e mesmo nos bairros nobres do Cairo, ou em hoteis de rede internacional, as vezes a fachada estava pintada, mas as laterais das casas ainda tinham os tijolos aparentes.
No total, passamos 3 dias e 3 noites no cairo, oque achei mais que suficiente pra ver tudo de interessante que a cidade tem a oferecer. Se tivessemos um dia a mais, por exemplo, provavelmente teriamos ido ate Alexandria de trem.
Mas pra quem esta sem tempo, diria ateh que em 1 ou 2 dias daria pra fazer o “basico” (Piramides e museu).