Todos que viveram os anos 90 provavelmente tem a mesma imagem da Bósnia que eu tinha ate uns meses atrás.
Eu me lembro vividamente dos noticiários de 1991/1992 comentando sobre a guerra, e nomes como Bósnia, Kosovo, Iugoslava imediatamente remetiam a imagens de guerra, destruição, devastação no sul da Europa.
Só a uns 3 ou 4 anos atrás quando comecei a trabalhar em contato com essa região eh que minha imagem foi mudando, e a fascinação pelas culturas dos Balkans foi crescendo e aumentando – desde então já visitei quase todos os países da região, e foi justamente depois da primeira viagem a Croácia em 2010 que me dei conta de como seria fácil viajar pela area.
Mas não adianta, “Bósnia” ainda é um pais de nome forte, e não é exatamente um destino tradicional pra ferias em família… E confesso que a vontade de conhecer o pais foi por puro fruto de curiosidade mesmo, pois minha imagem não era exatamente das melhores!
Sei lá, me considero bem mente aberta pra essas coisas, e destinos não-convencionais são comigo mesmo, mas imaginava que a Bósnia seria um misto de Romênia com Albânia – muito rica culturalmente e muita coisa legal pra oferecer, mas ainda descuidada, sem grandes estruturas turísticas.
E foi difícil pensar em argumentos convincentes para os comentários: “Vão fazer o que por lá?!”, “Nossa, vocês vão levar a Isabella pra Bósnia?! Iraque não estava disponível?!”, e afins, ou ate mesmo amigos e leitores que nos alertaram sobre problemas, golpes e furadas no pais.
Então tentei ser sucinta: estávamos baseados na Croácia, mas alugamos um carro e passaríamos apenas 1 dia na Bósnia, sem nos prolongar muito (por exemplo, queria ir a Sarajevo, mas a viagem seria longa demais) e nos mantendo nas areas turísticas.
Então Mostar foi nossa escolha!
E mais uma vez tive uma agradável surpresa! (que graças a deus surpresas agradáveis em viagens acontecem com muito mais frequência do que surpresas desagradáveis!)
A viagem foi tranquila, a estrada boa e passar pela imigração foi fácil (esse detalhes mais práticos da viagem vou escrever em outro post) e Mostar excedeu todas as nossas expectativas!
Mostar foi uma das cidades que mais sofreu durante a guerra da Iuguslavia na década de 90, justamente pagando o preço por sempre ter sido um dos principais centros culturais e com mais diversidade da região.
Os Balkans como um todo, sempre foram um caldeirão fervente de etnias, culturas, línguas e religiões, sendo que a Bósnia sempre foi o pais mais controverso nesse sentido – eles ja foram divididos, repartidos, separados e unificados por uma infinidade de países e impérios dominadores, e nunca se deram muito bem com toda essa mistureba.
Com exceção de Mostar, que além de histórico e cultural, ainda por cima era uma cidade onde muçulmanos (Herança dos Otomanos) e cristãos (herança dos Austro-Hungaros) convivam pacificamente.
E o principal ícone da cidade, a ponte Otomana do século 14 (que tambem era o principal símbolo do pais) também servia de icone por essa luta cultural-religiosa que fervia na Iuguslavia: a ponte de Pedra “Stari Most” unia os dois lados da cidade, cruzando o principal rio do pais e se tornou a principal rota que unia o litoral do Adriatico com os minerios do interior dos Balkans.
E foi justamente esse o alvo escolhido pelas forcas inimigas a ser destruida em 1993 – um bombardeio comandado pelo exercito separatista Bosnio destruiu em minutos toda a historia e simbologia da cidade.
Especula-se que o impacto moral foi tao grande na populacao da Bosnia e de toda regiao, que foi esse ataque que marcou o comeco do fim da guerra.
E se avancarmos quase 2 decadas, a regiao como um todo voltou a se reerguer e se recuperar da guerra – alguns paises se recontruiram rapido, outros ainda estao lutando por sua independencia, mas finalmente em 2004, com um projeto financiado pela ONU e com apoio internacional, Mostar se reabriu para o mundo (e para o turismo) ao inaugurar com toda pompa que teem direito a nova (velha) ponte, que foi restaurada e reconstruida exatamente como a original de 1400 e poucos.
Entao, como mencionei ai em cima, foi uma surpresa ir descendo as ruas de paralelepipedo de Mostar e entrar na cidade na beira do rio!
Porque tinhamos mesmo aquela imagem de “Bosnia”, que seria interessante, mas um feinho-arrumadinho, sabe? Ate porque os arredores da cidade, e as ruas que permeiam a estrada que chega ate la nao sao das mais amigaveis…
Ah! Como eu adoro estar errada nessas horas!
Sim, a cidade ainda tem algumas partes pra restaurar e dar uma ajeitadinha, mas a reconstrucao das areas principais ficou uma gracinha!
As pedrinhas das ruas principais parecem mesmo paradas no tempo (P.S. Impossivel andar por la com carrinho de bebe! Ainda bem que o canguru estava a tiracolo!), as casinhas coloridas, e as ruas que se afunilam mercado a dentro!
E claro, a piece de resistance eh a ponte! Todos os olhos (e cameras fotograficas!) estao sempre apontadas na mesma direcao, com aquele tipo de paisagem que foi feito pra morar num cartao postal!
A cor clarinha do marmore da ponte arqueada sobre a agua verdinha do rio Neretva, e os dois lados da cidade, com seu mercado, lojas e restaurantes se debrucando nas beiradas.
Nos escolhemos a sombrinha da varanda do restaurante Babilon para almocar – e o prato escolhido foram as tradicionais Trutas de agua doce do rio Neretva!
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