Chegar em Muscat foi quase que re-visitar algum lugar – pois ja tinha visto tantas fotos da cidade e do pais, que tudo me pareceu bem familiar. Oque nao deixa de ser estranho neh? Afinal nao eh exatamente um lugar super popular e de “massa”. Mas sabe quando voce descobre (e se apaixona) um lugar (ou uma coisa…) e de repente esse lugar comeca a aparecer em tudo quanto eh canto, como se fosse perseguicao?
Pois eh, Muscat aconteceu assim. Eu mal sabia que existia, ate um casal de amigo ir pra la ano passado. Assim que vi as fotos da baia da cidade antiga (Corniche), os canyons no deserto e ouvi as historias sobre a hospitalidade Omani, eu sabia que precisava conhecer o Sultanato muito em breve.
Entao quando surgiu a oportunidade de voltar ao oriente medio a trabalho, eu nao pensei duas vezes e apesar do tempo corrido nao podia deixar a oportunidade passar e tinha que incluir Muscat no meu roteiro!
Entao quando o guia veio me pegar no hotel, eu ja sabia exatamente onde queria ir e oque queria visitar, e dai pra frente, tudo que vi foi exatamente como imaginava!
A Muscat moderna que conhecmos hoje em dia eh na verdad a juncao de 3 cidades: Muscat (ou a cidade antiga), Matrah (Matruh) que era uma vila comercial e onde fica o mercado (Souq) da cidade e a parte mais moderna Ruwi, onde eh a “Muscat” de hoje em dia.
Pra comecar pela aparencia da cidade, com as cores e as formas tipicas do Oriente Medio, sem os exageros cometidos pelos vizinhos GCC (Gulf Countries Community) e com aquela sensacao de “arejado”. Sabe aquela sensacao boa que a gente sente ao chegar numa cidade balnearia? Aquele ar de mar, a paisagem infinita, as cores harmoniosas, cheirinho de maresia no ar… E apesar do clima de deserto e do calor que beirava os 40 graus, Muscat eh uma cidade com bastante verde e bastante sombra, oque so aumenta a vontade de sentar na sombra e beber uma agua fresca…
Meu guia, o Mussa, um senhor simpatico e engracado que representou exatamente oque eu imaginava ser um Omani: Me contou tudo sobre sua vida, sobre sua carreira na industria do petroleo, suas viagens pelo mundo, como criou os 7 filhos e como depois da aposentadoria nao aguentou mais ficar em casa, comprou um taxi e resolveu virar guia turistico. E com muito orgulho, foi me contando sobre todos os clientes que viraram seus amigos, que sempre voltam a Muscat e o visitam etc.
Quando eu falei que era Brasileira, nossa! Futebol, alegria… aquela coisa toda que a gente ja sabe, e passamos o dia todo conversando sem parar!
O passeio comecou pela Grande Mesquita de Muscat, uma construcao impressionante e imponente (eh a terceira maior mesquita do mundo!), que ao contrario de muitas outras mesquitas que vi pelos paises do Golfo, de simples nao tinha nada. A comecar pelo exterior, com sua cupula dourada e decorada, que a torna impossivel de nao ser vista de longe.
Mas foi dentro do jardim da mesquita que eu realmente me impressionei: uma estrutura enorme de puro marmore branco, reluzindo no sol e contrastando com o ceu perfeitamente azul!
A simetria dos arcos, dos minateres, dos portoes.
E dentro da mesquita a preocupacao com os detalhes continuou: a comecar pelo lustre de cristal Swarovski milimetricamente centralizado e simetrico em relacao as janelas e os lustres de apoio, e que (supostamente) custaram alguns milhoes de dolares e eh considerado um dos grandes tesouros do pais.
E dentro da mesquita tudo eh decorado nos minimos detalhes: o Mihab de azulejo trabalhado, as colunas e arcos listrados e o interior da cupula tambem de azulejos em alto relevo – e o mais impressionante: o gigantesco tapete persa feito a mao, que detem o recorde de ser o segundo maior carpete (feito a mao) do mundo!
O Mussa me deixou a vontade pra passear e explorar a mesquita (que estava praticamente vazia) enquanto ele se virou na direcao de Mecca e foi fazer sua oracao.
No final do tour da mesquita ele me levou no “Centro Cultural Islamico” da mesquita, ja que tinhamos falado bastante sobre isso no carro. Ele me perguntou alguns detalhes e curiosidades sobre minha religiao, enquanto ele me contou da religiao dele, e o pessoal do centro cultural me deram alguns livrinhos que relacionam o Islamismo e o Cristianismo, o natal Omani (em Oma eles tambem comemoram Natal, pois celebram o nascimento – milagroso – do prefeta Jesus), livrinhos que falam sobre o papel da mulher no Islamismo, etc.
Eu ja cometei em outros posts quando fui a Israel e Siria sobre essa coisa de religiao, e apesar de nao ser particularmente uma pessoa religiosa e praticante, eu acho a teologia um assunto fascinante, que explica muita coisa sobre a cultura, sociologia, antropologia e historia de um determinado povo, e ao mesmo tempo que acho que esses “centros de cultura Islamicos” sao uma iniciativa super legal, que ajuda a desmistificar muitos preconceitos existentes em relacaa a essa religiao. Mas ao mesmo tempo, parte de mim acha uma pena que todos eles tenham essa constante necessidade de ter que se explicar, de ter que mostrar que no fundo o Islamismo eh uma religiao do bem, que prega os mesmos principios que o Cristianismo, Budismo, Judaismo etc, sobre o bem, o amor ao proximo e a uma vida feliz – mas que infelizmente estejam estigmatizados pela destruicao causada por uma faccao minoritaria… mas isso eh assunto pra outro dia!
Depois da mesquita, papo vai, papo vem, o Mussa me levou pra conhecer sua filha mais velha: uma mulher solteira e independente, que estudou moda e se tornou uma das principais designers de moda do Golfo. Entao la fomos nos conhecer seu estudio e fabrica, e com todo orgulho do mundo, ele me mostrou as fotos e artigos de jornal que falavam de sua filha, o fato de que ela foi a designer dos trajes do casamento de alguns membros da familia do Sultao, os premios que ela recebeu de associacoes Arabes e Islamicas na Europa e EUA, as fotos dela com o ministro tal, com a celebridade tal, o figurino pro filme Bolywood nao sei oque, etc, etc. Que comprovou sua teoria de que na sociedade Omani, sao as mulheres que ditam as regras dentro de uma familia!
Eles me explicaram como a mulher Omani é considerada bonita e muito vaidosa, e oque significa cada tipo de abaya, vestidos e veus, e quando cada peça deveria ser usada. Muito interessante, principalmente pra nos mulheres ocidentais que achamos que ter que usar um veu é um sinal de opressão e uma moda sem graça…
E entao seguimos em direcao a cidade antiga de Muscat, passando pelo caminho mais longo, na beira da praia. Mas ai aconteceu um emprevisto, e quando eu pedi pra parar pra tirar umas fotos da paisagem, o carro morreu e nao funcionou mais!
Eu achei uma sombrinha em baixo de uma palmeira, ele me emprestou o jornal do dia (em Ingles) e fiquei no meu canto, enquanto uns 4 carros diferentes pararam na estrada pra oferecer ajuda. Depois de mais de uma hora de espera ele acabou ligando pra um de seus filhos, que veio nos buscar e nos emprestou seu carro, para que minha tour nao fosse cancelada e eu pudesse ver o resto da cidade!
A proxima parada foi o mercado antigo de Muscat, com seus labirintos de lojas e barraquinhas vendendo todo tipo de quinquilharias, temperos, tapetes, tecidos, nozes e muita prataria. Mas apesar da area ser coberta, o calor estava demais e depois que fizemos umas comprinhas (eu comprei um enfeite de natal, e ele comprou amendoas e pistaches) fomos pra cidade antiga.
E bem ali na beirada do mercado esta o principal simbolo da cultura da Cidade: a Corniche, que eh a “orla” da cidade antiga, com um calcadao beirando mar, um porto com barcos e iates, vigiado pelo forte/castelo e cercado pelas dezenas de mini torres de observacao, estrategicamente posicionadas nos topos das colinas que cercam a cidade, oferecendo protecao absoluta!
As principais atracoes da cidade antiga de Muscat sao o Palacio real e os antigos fortes, tambem conhecido como “Forte Portugues”.
O Palacio Real eh onde o Sultao mora e trabalha oficialmente (ja que ele tem varios outros espalhados pelo pais) e sua fachada colorida se destaca no meio de uma paisagem rochosa e com casas/predios brancos por todos os lados.
O palacioreal ” Qasr Al Alam” na verdade nao eh antigo, pois foi construido apenas em 1972, e o simbolismo por tras de sua construcoa sao as cores: o azul representa o mar e o ceu de Oma, enquanto que o dourado representa o sol (que brilha cerca de 360 dias por ano) e a riqueza do petroleo. O palacio fica bem no centro da Baia da cidade antiga de Muscat, cercado pelos dois fortes antigos.
Ja os fortes Portugueses, eram uma das coisas que eu estava mais curiosa pra ver! Na verdade sao dois, o Forte Al Jalali e o Al Mirani, que ocupam as duas pontas da baia de Muscat (e mais algumas de dezenas de mini torres espalhadas pelas colinas da cidade).
Hoje em dia os dois fortes sao museus, mas infelizmente abertos apenas a chefes de estado e convidados do Sultao.
O primeiro forte a ser construido pelos Portugueses foi o Al-Jalali que era usado como prisao e estoque de suprimentos.
Muitos anos depois o segundo forte foi construido, o Al-Mirani e diz a lenda que foi em parte por culpa desse forte que os Portugueses perdeam controle da regiao.
A lenda conta que um dos comandantes portugueses se apaixonou pela filha de um comerciante Hindu. O pai da moca era contra a uniao (por questoes religiosas, ja que a filha teria que se casasr com um homem cristao), mas nao recusou a oferta e deixou o pobre Portugues planejar a festa de casamento. Durante esse processo de planejamento, o comerciante hindu estava na verdade fazendo acordos com o Sultao, e acabou convencendo os portugueses a removerem as armas e polvora dos poroes do forte.
Entao sem o armamento em “estoque”, em 1649 os Otomanos atacaram os Portugueses e retomaram o poder da baia de Muscat e do pais (e suas vias comerciais).
Infelizmente nao pude fazer o passeio completo, que incluiria algumas das outras cidades proximas a Muscat como Niwza e Nakhal, pois acabamos perdendo muito tempo quando o carro quebrou.
Mas como eu disse antes, isso foi apenas mais uma desculpa pra querer voltar mais vezes!
No fim do dia o Mussa me levou de volta ao hotel 9que tinham me dado um late check out) enquanto ele foi pra Mesquita fazer mais uma oracao, e combinamos que ele voltaria pra me levar pro aeroporto. E pra minha surpresa, quando ele apareceu pra me buscar, ele trouxe duas filhas e a esposa, pois todas queriam me conhecer!
A filha mais nova tinha acabado de se formar na faculdade de Recursos Humanos, entao ficamos o caminho todo ate o aeroporto (com engarrafamento!) conversando sobre sua futura carreira, os estagios que ela ja tinha feito e as areas de RH que ela mais gostava. Em troca, ela me prometou que a proxima vez que eu voltasse a Muscat ela fara o desenho em henna tipico de Oman nas minhas maos e pes!
Eh ou nao eh pra ficar apaixonada pelo lugar e pelas pessoas?!