05 Aug 2004
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Imigração S.A.

Vida no Exterior

Não é novidade para ninguém que os paises do chamado “primeiro mundo” todos os dias recebem uma enxurrada de emigrantes vindo de tudo quanto é parte do “terceiro mundo” em busca de uma vida melhor; vida essa que na maioria das vezes não passa de sonho.

Cada dia que passa me surpreendo com a diversidade de pessoas e culturas que convivem juntas nas grandes cidades européias.

No meu bairro, por exemplo, eu divido a fila do supermercado com pessoas usando roupas coloridas africanas, afegãs de burca, Peruanas com roupa de índio Inca, muçulmanas de véu, chinesinhas olhando p/ o chão, etc… e eu na minha calça jeans sou o bicho mais estranho do pedaço…. hehehehehe

Me surpreende a coragem que as pessoa tem de largar tudo e vir p/ um lugar tão diferente de toda e qualquer referencia que eles tem na vida, para suportar coisas e viver em condições nada, nada ideais…

Não me considero parte desse bolo migratório, pois meus propósitos aqui são diferentes, e conseqüentemente vejo as coisas ao meu redor de maneira diferente também.

  

Mas por outro lado me identifico mais do que ninguém com as pessoas que saem de seus paises com um ideal não de sobreviver, mas de viver uma coisa diferente.

Pessoas que estão aqui para estudar, viajar, passear.

Mas mesmo assim vc acaba vendo e escutando coisas que não dá p/ acreditar…

  

No outro dia no intervalo da aula comecei a conversar com o cara Iraniano do meu curso, e papo vai papo vem, a inevitável conversa sempre chega: e aí? Porque vc quer estudar espanhol? As respostas sempre são as mais variadas possíveis, mas dessa vez me pegou de surpresa.

Simplesmente a resposta do dito cujo foi: para poder ir p/ os EUA.

Resumidamente, o sonho dourado da vida dele sempre foi ir p/ os EUA; passear, conhecer, morar, tudo vale p/ ele. Passou a vida toda tentando um visto, e nunca conseguiu; agora mais do que nunca, é impossível p/ aum Iraniano ultrapssar as fronteiras norte americanas. Mas o que o c* tema ver com as calças certo?

Aprender espanhol é mais uma de suas tentativas desesperadas de se americanizar, pois ele disse que ouviu falar muito que a influencia latino-americana nos EUA esta cada vez maior, que em algumas cidades já tem mais gente que fala espanhol do que inglês. Então caso os EUA se transformem num país “bilíngüe” ele já estará preparado. E além disso, disse Saeed (o nome do dito cujo), caso um dia ele consiga realizar o seu sonho dourado, ele sabe que não será bem recebido pela sociedade americana, então vai tentar se aproximar da comunidade latina, os underdogs da America do Norte.

Foi uma sensação muito estranha ver seus olhos brilharem de admiração/inveja quando eu respondi positivamente que sim, já tinha ido aos EUA varias vezes; norte, sul, leste, oeste. “É como nos filmes?”. Dá pra acreditar? Morri de pena ao imaginar a decepção do coitado ao passar pela fronteira americana, ser revistado na alfândega, os olhares suspeitos por todos os lugares que ele for, a discriminação, o racismo cada vez maior contra os árabes, e por aí vai….

Em Firenze convivia com a Barbie Japão, e agora convivo com o Ken Iran…

  

Isso sem falar no choque cultural que a convivência de tantas culturas tão diferentes podem provocar. Depois de 4 meses, quatro cursos e quatro grupos diferentes de alunos, eu já ouvi e vi tantas barbaridades anti diplomáticas que eu poderia escrever um livro para o Itamaraty.

O impressionante é que na maioria das vezes, essas conversas que acabam com o ambiente de qualquer festinha, muitas vezes são fruto da curiosidade dos próprios professores, porém eles mais do que ninguém deveriam saber que certas coisas não se perguntam…

Alguns exemplos que me vem à cabeça (os mais absurdos a gente nunca esquece):

Nunca pergunte para um alemão sobre Hitler, para um Koreano sobre a batalha Korea do Sul – Korea do Norte, para um brasileiro sobre o turismo sexual infantil no nordeste, para um árabe sobre Osama Bin Laden, para um Americano sobre Bush, para um Canadense sobre as diferenças French Canada – English Canadá, para um Slavo sobre a separação da república Checa, porque uma marroquina não usa véu no cabelo, para uma Israelense sobre a faixa de Gaza, para um Nigeriano sobre a miséria na África, para um Tailandês sobre o trafico de escravas sexuais, para um Colombiano sobre o trafico de drogas, etc…

  

Existem muito mais coisas na vida de um expatriado do que supõe a nossas vã filosofia…

 

Adriana Miller
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