Como quase todos os paises arabes (e principalmente quando em “conflito”), qualquer viagem para o Oriente Medio requer uma certa prepacao a mais, sejam nos detalhes pre-viagem, ou seja psicologicamente mesmo. E no caso de Bahrain, como eu nao conhecia ninguem que ja tivesse visitado o pais, fiz questao de fazer meu dever de casa direitinho, pra nao cometer nenhuma gafe cultural nem me meter em roubadas!
– Visto
Bahrain exige visto de todos os seus visitantes de paises nao-membros do Golfo, e recomendam que seu visto seja solicitado, e pago, com antecedencia direto no consulado de Bahrain.
Porem, como eh um pais pequeno e que nao tem presenca consular na grande maioria dos paises, eles tambem operam uma politica de “visto na entrada” pra quem vai ficar menos de 15 dias, que incluiu em sua lista “limpa” quase todos os paises Europeus, EUA, Canada e Brasil.
Para ser eligivel a um visto na chegada a Bahrain (mesmo procedimento e regrinhas caso vc va pedir seu visto com antecedencia) voce tem que ter um passaporte que seja valido por um minimo de 6 meses e sem carimbos de Israel (tema comum em quase todos os paises do Oriente Medio, que ja falei sobre na minha viagem a Israel, Dubai, Libano e Siria). AInda no aviao, nos deram um formulario de entrada, e o visto eh concedido diretamente pelo guardinha de imigracao. A unica pergunta que respondi foi qual empresa trabalhava e se essa era minha primeira viagem ao Reino, e tive que pagar o visto na hora, em dinheiro.
O visto custa 5 Dirhams, que eu nao tinha, mas alem do Dirham Bahreni eles tambem aceitam Dolares, Euros ou Libras. Paguei em Libras pois nao tinha moeda local ainda, e recebi o troco em Dirham.
– Transporte
Voce provavelmente entrara em Bahrain pelo unico aeroporto do pais, na capital Manama. O aeroporto eh grande, moderno e bem organizado.
Mas o pais tambem tem acesso direto a Arabia Saudita atravez de uma ponte de 25km de comprimento, conectando a ilha principal ao continente. A entrada e saida da Arabia Saudita eh livre para Saudis e Bahrenis, mas super-duper controlada para turistas. Nao tente de forma alguma tentar cruzar a fronteira sem pedir um visto Saudita com antecedencia – e mulheres soh podem entrar no pais se acompanhadas pelo marido, pai ou irmaos (os vistos feminios sao concedidos apenas como dependente no visto de um macho).
Ja o transporte interno no pais eh altamente limitado.
Assim como sua vizinha Dubai, Manama foi nao projetada para pedestres, e apesar de ter reparado numa calcada aqui ou ali, nao se ve pessoas nas ruas. Transporte publico eh inexistente, e nao existe nenhuma linha de onibus nem metro.
Mas por outro lado, os taxis sao baratissimos e alugar carro (e o preco da gasolina!) tambem eh bem barato, entao eu nem penso duas vezes! Pego taxi ate pra ir na esquina!
– Dinheiro e economia
Bahrain, assim como seus vizinhos do Golfo, eh um pais rico – sua populacao nao paga impostos ao governo, e o pais vive basicamente de petroleo e de servicos bancarios (Bahrain eh a Suica do Oriente Medio no setor financeiro).
A moeda, o Dirham, esta num momento de super valorizacao, apesar dos conflitos politicos, e eh muito mais valiosa que o Euro, Dolar ou Libra, por exemplo.
Mas por ser uma ilha desertica que nao produz praticamente nada, os precos sao relativamente altos, e o custo de vida, caro. Um mal muito comum a outras ilhas do mundo, pois quase tudo que voce vir a venda por aqui, sera um produto importado.
Uma coisa que eu achei engracada e me deu um baita susto quando cheguei foi que aqui eles usam centavos com 3 decimais. Ou seja, 80 centavos, sao 80/100, entao todos os precos de 1 digito mostram seus centavos com 3 digitos. Explico: Um item que custe 1 Dirham e cinquenta centavos vai aparecer como 1.500 Dirhams. Entao na minha primeira noite no hotel, eu achei que estava jantando uma salada (de ouro cravejada em diamentes) de 6 mil e 900 Dirhams….! Ouch! Mas depois a ficha caiu, e a menina do escritorio me explicou como as coisas sao calculadas….
– Cultura e religiao
A primeirissima coisa a ter em mente eh que Bahrain eh um pais Muculmano. Dentro do Islamismo, a populacao eh dividida entre Xiitas e Sunitas, oque tem causado muitos conflitos sociais, politicos e ideologicos (seria Bahrain a Irlanda do Norte do Oriente Medio?!), mas oque importa pra quem esta de fora eh ter conciencia das diferencas entre Ocidente e Oriente.
Aliais isso vale nao soh pra Bahrain, mas pra todos os paises do Golfo e do oriente Medio. Bom senso e respeito na “casa” dos outros. Se voce se sente tao incomodado pela religiao e costumes locais (um exemplo bobo? Gente que fica horrorizada de ver mulheres cobertas por abayas pretas), entao melhor escolher outro destino pra sua viagem.
Apesar de se considerar “liberal” (percebi que eles se comparam demais com a Arabia Saudita, que sao super extremistas, principalmente no que diz respeito a igualdade entre homens e mulheres), eles mantem as tradicoes “estereotipicas” do Islamismo.
Mulheres aqui tem direito a voto, a dirigir, estudar e trabalhar, mas ainda assim se cobrem da cabeca aos pes, com burqas, abayas e veus.
Visitantes mulheres nao precisam cobrir os cabelos (a nao ser quando visitam mesquitas – eles terao abayas pra te emprestar), mas o bom senso sempre cai bem nesses momentos, e tente ignorar o calor de 37.946 graus centigrados la fora e se cubra o maximo possivel, por respeito (a voce mesmo e aos locais).
– Oque vestir, e como fazer a mala?!
Isso me leva diretamente ao proximo ponto: como se vestir entao?
Dessa vez eu nao tive tantos dilemas pra fazer minha mala, quanto tive quando fui a Dubai, pura e simplesmente porque vim a trabalho; e roupa social eh aquela cosia meio universal no mundo todo: blusas comportadas, ternos, calcas e sapatos fechados. Eu trabalho num banco de investimento, então não vou trabalhar de mini-saia de paetes nem em Londres nem na Conchinchina, então porque aqui seria um problema, certo?
Se eu estivesse aqui de ferias, aplicaria exatamente tudo que falei no post sobre Dubai e Egito: roupas ocidetais e “calorentas” devem ser limitadas a areas privadas de hoteis e resorts. Em areas publicas mantenha a extencao de pele a mostra limitada ao minimo possivel (isso vale tanto para homens quanto pra mulheres), e lembre-se que para visitar mesquitas mulheres devem cobrir bracos, pernas e cabelos, e homens as pernas e bracos.
Aqui em Bahrain um lenco e calca + blusa comprida nao foi suficiente, e assim como na Siria, eu tive que usar uma abaya da cabeca aos pes para entrar na mesquita, e vi outros turistas homens tendo que se vestir com as tunicas brancas dos homens locais.
– Seguranca
Ate uns meses atras Bahrain se gabava de ser um dos paises mais seguros do mundo, com virtualmente zero indice de violencia e furtos urbanos, e muito menos ainda casos de extremismo religioso.
Infelizmente essa situacao mudou em 2011 devido aos problemas politicos.
A situacao da violencia urbana continua baixissima, e pode sair na rua coberta de ouros e diamantes sem o menor problema, mas a populacao local anda apavorada de retaliacao do exercito, das blitz policiais nas avenidas principais e possiveis futuros conflitos.
E uma das meninas do escritorio comentou que apesar dos problemas que Bahrain teve esse ano, o pais ainda eh visto entre os vizinhos arabes como “aberto” e “liberal” oque tem atraido outros imigrantes das regioes que sofreram mais, como Tunisia, Siria e Egito, oque aparentemente esta causando um certo desconforto interno.
E como o pessoal dessa area nao tem o menor pudor em ser politicamente incorreto contra seus vizinhos, digamos que eles deixaram bem claro que os Arabes do Norte da Africa nao sao bem vindos e muito menos vistos como iguais… Phew…!
– Lingua
A lingua oficial é o Arabe, mas o Ingles é tão comum quanto. Na verdade, em Bahrain, quase todo mundo é bilingue. As escolas publicas começam a ensinar Ingles na 4a série (logo que estão alfabetizadas em Arabe) e em escolas particulares a alfabetização em Arabe e Ingles acontece ao mesmo tempo.
– Turismo
Bahrain tentou de tudo nos ultimos anos pra investir em turismo e entrar na competicao com seus vizinhos de Golfo, construindo novos hoteis, pistas de formula 1, ilhas artificiais e afins, mas tudo esta parada desde o comeco do ano.
Por isso foi praticamente impossivel achar qualquer tipo de passeio ou atividade turistica que nao envolvesse passear no shopping (que sao muitos!). As agencias de turismo receptivo fecharam as portas ha muitos meses, e os turistas ainda nao voltaram.
Por sorte, a cidade eh bem pequena, e meu hotel conseguiu reservar um motorista/guia pra dar umas voltinhas comigo. Mas ainda assim, muitas das areas interessantes da cidade estao internditadas e ocupadas por protestantes ou pelo exercito Saudita, e portanto inacessiveis para passeios.
Entao pra quem interessar possa, entrem em contato com o Sr. Abdulla Muhanna, no email muhanna@batelco.com.bh
E por fim: eu voltaria?
Espero ter a oportunidade de voltar um dia, quando essa instabilidade tenha passado e o pais esteja de novo com a auto estima em alta, mas nao achei um pais particularmente turistico, e nao sei se um dia voltaria de ferias pra ca. Faltou uma tchan, sabe? Aquele atrativo-simbolo, que por mais artificial que seja, seus vizinhos tem de sobra!