Nos últimos dias o mundo tem prestado atenção nos gramados verdinhos das quadras de um pacato bairro no Sudoeste de Londres: Wimbledon!
Por 50 semanas do ano, Wimbledon é um afluente e calmo bairro. Até que todos os anos (geralmente) entre a última semana de Junho e a primeira semana de Julho, Wimbledon se transforma!!
Turistas, jornalistas, fãs de tênis e atletas de altíssimo escalão revolucionam o clima do bairro.
E não é atoa que Wimbledon tem essa aura de “exclusividade”. Talvez seja a grama verdinha imaculada, que leva extatas 50 semanas de precisão Britânica para deixa-la em condições perfeitas. Ou então os jogadores vestidos de branco.
Mas provavelmente seja por causa da dificuldade de se conseguir ingressos para as partidas!!
Na verdade, não é difícil. Apenas muito trabalhoso. A AELTC (All England Lawn Tennis Club – a associação Britânica de tênis de grama) é uma das instituições mais tradicionais do Reino Unido, e não só apenas no âmbito dos esportes, e levam suas tradições muito a sério – e isso inclui a venda de ingressos.
O processo começa todos os anos entre Agosto e Dezembro, para a competição do ano seguinte (por exemplo, em Agosto de 2013, inicia o processo para 2014). Resumidamente, para ter o direito de comprar ingressos para as partidas de Wimbledon, é preciso se inscrever um sorteio “loteria” público. Qualquer pessoa pode se inscrever e potencialmente ser sorteado, e funciona assim:
– Entre as datas estabelecidas (que muda todo ano, então para datas atualizadas, veja aqui), você precisa enviar um envelope para o endereço da AELTC. Dentro desse envelope, você tem que incluir um outro envelope, selado e endereçado a você mesmo. Cada endereço pode se inscrever para até dois ingressos.
– Umas semanas depois de enviado, a AELTC reenvia seu envelope endereçado com um formulário a ser preenchido. Eles não disponibilizam os formulários eletronicamente pois precisam que as dimensões e cores sejam sempre idênticas, pois são essas mesmas fichas que serão computadorizadas como parte do sorteio.
– Uma vez que as incrições se encerram em Dezembro, eles iniciam o processo de sorteio, e o resultado começa a ser divulgado a partir de Fevereiro ou Março.
– Se você for sorteado, receberá uma carta da AELTC com instruções sobre como comprar seus ingressos e os prazos. Se vocie não recebeu carta nenhuma, é porque não foi sorteado.
– O sorteio é totalmente aleatório, e você não pode escolher qual quadra, jogo/jogador ou dia quer assistir.
– O período de notificação e venda de ingressos as vezes pode durar até Maio ou inicio de Junho, pois a medida que algumas pessoas sorteadas não confirmem a compra de seus ingressos, os mesmo são re-sorteados e re-vendidos.
– Eles não tem nenhuma outra forma de inscrição, nem adotaram inscrições eletrônicas ainda.
– Para os sortudos sorteados, cada ingressos lhe dará direito a passar o dia dentro do complexo de Wimbledons (The Grounds) e assistir a todas as partidas que se realizem naquele dia, naquela quadra.
Porém, como tudo em Londres, a demanda é infinitamente superior a demanda, e nem todos que querem ir a Wimbledon conseguem ingressos via sorteio (eu já tentei várias vezes e nunca fui sorteada!).
Porém todos os anos a AELTC reserva alguns ingressos para serem vendidos no dia da partida, disponíveis ao público na bilheteria.
E ai se inicia um novo processo!
Mais uma vez, a procura é muito maior que a oferta, e o processo para comprar ingressos no próprio dia também é trabalhoso.
Todos os dias são cerca de 1.500 ingressos para as partidas das quadras “Centre court” (a principal), “Court 1” e “Court 2”, que são distribuídas por onde de chegada – uma pessoa, um ingresso.
Além disso, cerca de 3.000 ingressos para entrada no complexo (Grounds), sem direito garantido a assistir nenhum jogo. E a venda desses ingressos funciona no mesmo esquema: por ordem de chegada, uma pessoa, um ingresso.
E justamente por causa da relação “oferta/demanda” de ingressos, até mesmo fazer fila em Wimbledon tem todo um processo e código de conduta!
Pra começar que para conseguir os ingressos para as quadras (ou seja, estar entre os primeiros 1.500 pessoas), é preciso acampar por lá desde o dia seguinte da partida.
Cada barraca só pode ter até 2 pessoas, eles tem espaço e infra estrutura para 750 barracas.
Já pra quem quiser um dos cerca de 3.000 ingressos para entrar no complexo de Wimbledon, é preciso chegar cedo, muito cedo. E esperar!
Os portões da “fila” (“The Queue”) abrem as 6:30 da manhã, e não é nada exagero dizer que já tem fina na porta!
Eu não sabia exatamente o que esperar do processo, mas sabia que teríamos que esperar bastante e que no geral, era bem confortável.
Pra começar que não é uma “fila” no sentido comum da palavra.
A area reservada para a “fila”, conhecida e denominada como “The Queue”, é um enorme parque gramado – arejado, limpo, com banheiros, guarda volumes, cafés e lanchonetes.
Ao entrar nesse parque, os funcionários te orientam sobre onde você deve ir, e eles vão organizando as pessoas em fileiras no gramado.
Logo depois, alguém passa distribuindo os “Queue Cards” – um cartãozinho individual e numerado, que garante seu lugar na “fila”, e é o que você precisa apresentar na entrada para ter o direito de comprar seu ingresso. Todos os dias eles distribuem um numero X de “Queue Cards” (geralmente 3.000), e depois que eles acabam, uma nova fila recomeça – para quem quiser entrar em Wimbledon, a medida que as pessoas forem embora no fim do dia.
Eu fui com uma amiga e chegamos cerca de 7 da manha – muito cedo mas tivemos a desculpa de que nossos bebês acordam cedo mesmo, então porque não curtir o dia em Wimbledon?!
Quem chegou cerca de meia hora depois, já foi encaminhado para a fila de “esperar o dia todo” com expectativa de entrar apenas depois das 17:00.
Uma vez lá, e em posse do seu “Queue Card”, você pode ir e vir e fazer o que quiser – não é preciso ficar na “fila”.
Então o pessoa se espalha: abre os cobertores na grama, vai fazer um lanche, joga bola, as crianças correm pelo gramado.
Mas tudo é fiscalizado, justamente pra evitar que alguém chegue cedo, pegue um lugar na fila e desapareça. Então a cerca de cada meia hora os funcionários passam reorganizando a fila, pedindo pras pessoas mudarem de lugar – se seu pertences estiverem abandonados, eles serão recolhidos e em muitos casos, seu “queue card” confiscado.
As 10:30 da manhã a bilheteria abre e as pessoas começam a entrar no complexo, comprando seus ingressos de acordo com seu “Queue card” (só aceitam dinheiro, para agilizar o processo!).
E uma vez lá dentro, é tudo o máximo!
Pra começar que o lugar é lindo! Perfeitamente decorado e cuidado – muitos gramados, jardins, flores, banquinhos, cadeiras, mesas etc.
As opções de restaurantes são muitas, para todos os bolsos: nos edifícios das quadras “Centre Court” e 1 e 2 existem restaurantes e cafés mais formais e caros, e espalhados por todo o complexo estão várias opções de lanchonetes e restaurantes mais informais.
Também é fácil encontrar barraquinhas vendendo bebidas em todas as esquinas. E como manda a tradição de Wimbledon, muito Pimm’s e Morangos com creme!
Uma outra área muito legal em Wimbledon é o “The Hill”, um enorme gramado (meio inclinado) com um super telão passando os jogos ao vivo.
Então é lá que todo mundo se encontra e fica passando o tempo e curtindo o sol entre uma partida ou outra e tal.
Ao longo do dia, pra quem entrou em Wimbledon apenas com “Ground Tickets” (só com direito a entrar no complexo), tem a oportunidade de comprar ingressos para quadras específicas de “re venda”. Ou seja, a medida que o dia vai passando e os jogos vão acabando, e as pessoas que tinham ingressos para as quadras principais vão embora, seus ingressos são recolhidos e revendidos aos outros expectadores, aumentando as chances de quem quiser assistir algumas das partidas.
E claro, tem mais fila! E mais regrinhas a serem respeitadas em para tal fila!
O complexo fica aberto até as 10 da noite, com gente entrando e saindo o dia todo (última entrada as 8 da noite) e algumas partidas durando até bem tarde!
– Wimbledon com crianças e bebês:
Muita gente se surpreendeu de ver que a Isabella foi comigo (e minha amiga também levou a filha dela), mas achei que Wimbledon é um programa maravilhoso pra famílias e crianças de todas as idades!
É preciso respeitar algumas regras: bebês de colo e crianças menores de 5 anos não são permitidos na quadras princiais (Centre Court, 1, 2 , 3 12 e 18), e a organização recomenda que carrinhos não sejam levados para o complexo.
Nós optamos por levar nossos bebês apenas no cangurru, já que as duas são novinhas e (relativamente) leves, e foi a melhor decisão do dia!
Realmente vimos muitos pais e mães com crianças maiores em carrinhos, mas eles acabavam ficando limitados a poucas áreas do complexo, já que de forma geral Wimbledon tem muitas escadas, ladeiras, gramados inclinados etc.
Então levamos mantas e cobertores, nos espalhávamos nos gramados e as meninas ficavam numa boa brincando, rolando, dormindo e mamando.
Eles também tem alguns banheiros com fraldários (mas não todos) tanto em banheiros femininos quanto masculinos, confortáveis e limpos, além de bebedouros espalhados pelo complexo e várias opções de comidas infantis e lojas de souvenirs com brinquedos, roupinhas de crianças, raquetes de tênis mirim etc.
Tudo muito família!
Para crianças a partir de 5 anos, já são permitidos nas quadras, porém devem pagar um ingresso inteiro, como se fossem adultos.
– TicketMaster a partir de 2013!
A partir de 2013 a AELTC decidiu disponibilizar alguns ingressos via TicketMaster, para tentar diminuir a quantidade de gente todos os anos na “fila”, e tentar reduzir o número de ingressos “no show”.
São pouquíssimos por dia, pois eles apenas revendem on line os ingressos de pessoas que os notificam que não poderão usufruir os ingressos sorteados/comprados, então nunca dá pra saber quantos serão por dia e para quais quadras.
Mas ainda assim é uma chance a mais!
Os ingressos estão disponíveis na véspera de cada partida, a partir das 9 da manhã.
– Chegando e saindo de Wimbledon – na prática!
Wimbledon é um bairro no subúrbio Sudoeste de Londres, e o complexo de tênis da AELTC (Associação Inglesa de tênis de grama) fica lá perto, porém não no centro de Wimbledon.
Para chegar lá a partir de Londres é facílimo e com várias opções.
A mais simples é de metrô, pela District Line (linha verde) até lá e você pode descer na estação de Southfields ou Wimbledon (o complexo de tênis fica entre as duas). Não esqueça de consultar o Journey Planner para descobrir qual a maneria mais fácil entre sua casa/hotel até lá.
Outra opção, e bem mais rápida é ir de trem – a viagem entre a estação Waterloo e Wimbledon dura apenas 15 minutos (e a passagem de ida e volta custa 6,90£). Chegando na estação você pode andar, pegar um ônibus ou táxi (durante o campeonato os taxis da cidade fazer um esquema “cab share”, então todo mundo divide os táxis, para darem conta da demanda.
– Wimbedon nas outras 50 semanas do ano:
Porém o campeonato dura apenas 2 semanas por ano, mas é possível visitar o complexo de tênis e o museu o resto do ano todo (50 semanas por ano).
O museu conta um pouco da história do tênis e da associação Inglesa de tênis de grama, além de seus momentos históricos, principais jogadores, vencedores, troféus, uniformes e toda a tradição de Wimbledon.
Além disso, também é possível agendar visitas guiadas no complexo ao longo do ano, e ver por dentro das quadras, áreas de acesso, e entender um pouco mais dos bastidores desse campeonato tão tradicional!
Durante as duas semanas em que acontece o campeonato (geralmente a última semana de Junho e a primeira de Julho), o museu só permite a entrada de visitantes que já possuam um ingresso para o campeonato (e só é possível visitar o museu, sem o resto do complexo).
Voce pode comprar seu ingress antecipado para visitor o museu de Wimbledon e fazer uma tour guiada pelos campos, aqui nesse link!
Planejando sua viagem para Londres?
Alem de todas as dicas para aproveitar o maximo de Londres que voce encontra aqui no Blog, planeje tambem sua viagem com servicos e recomendacoes testadas e aprovadas:
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Adriana Miller, Carioca. Profissional de Recursos Humanos Internacional, casada e mãe da Isabella e do Oliver.
Atualmente morando em Denver, Colorado, nos EUA, mas sempre dando umas voltinhas por ai.
Viajante incansável e apaixonada por fotografia e historia.
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