Seu avo, filho de Holandeses, nasceu na “Africa Sudoeste Alema” (em Ingles “German South-West Africa” ou Alemao “Deutsch-Südwestafrika”). Seu pai, nasceu na “Africa Sudoeste” (em Ingles South-West Africa e Alemao Südwestafrika). Ele nasceu na “South West Africa People’s Organisation” (SWAPO), sob dominio Sul Africano. E finalmente seus filhos nasceram na Republica da Namibia.
Tudo isso, sem nunca ter saido na mesma cidade, um vilarejo de pescadores na regiao sul da Costa dos Esqueletos.
Foi assim que nosso guia tentou colocar em perspectiva a historia conturbada que a Namibia teve no ultimos seculo, apenas se tornando uma republica 100% independente e reconhecida internacionalmente em 1990!
E essa pequena introducao tambem da um otimo gostinho doque a Namibia eh hoje em dia, um pais que mistura perfeitamente a estrutura certinha e perfeita de um legado Alemao, com uma natureza praticamente intacta e “selvagem”, em um territorio basicamente inexplorado e desconhecido pelo mundo.
Afinal sao apenas cerca de 2 milhoes de habitantes, espalhados em meia duzia de cidades (se isso tudo!), ocupando um territorio geografico equivalente ao Reino Unido E Alemanha juntos!
Estima-se que cerca de 50% dessa populacao ainda viva primitivamente, organizados em tribos e nomades – os homens cacam e as mulheres colhem: como faziam ha milhares de anos atras.
E esse eh tambem o principal desafio do atual e moderno governo da Namibia – como desenvolver a sociedade e a economia local sem descriminar e nem destruir a cultura rica e primitiva da populacao?
E a populacao da Namibia tambem merece destaque – a primeira impressao foi de uma sociedade segregada e dividida: brancos de origem Alema e Holandesa de um lado. Negros de origem tribal de outro.
E sim, essa clara divisao existe no pais, mas ao contrario de seu vizinho Africa do Sul, a Namibia nunca teve um Apartaheid (na verdade tiveram um versao mais “light” durante os anos de ocupacao Sul Africana), pois devido a geografia e organizacao da sociedade, essa “divisao” de cores nunca deu certo. E por isso, os efeitos devastadores na economia e sociedade sao bem menos visiveis.
Mas enquanto o governo e a sociedade nao decide qual a melhor maneira de promover um desenvolvimento saudavel as milhares diferentes tribos do pais, o resto da sociedade “urbana” vai indo muito bem, obrigada!
Nao conhecemos ninguem durante nossa semana por la que nao falasse pelo menos 2 ou 3 linguas (e entre os negros esse indice de linguas eh ainda maior, pois muitas vezes eles ainda mantem os dialetos tribais de seus antepassados), que nao tivesse estudado com bolsa completa do governo (principais area de investimento sao turismo e minerio) e que tivessem um conhecimento gigantesco do mundo – mesmo aqueles que mal sairam de seus vilarejos!
E a educacao das pessoas?!?! Passamos por cada situacao de cair o queixo! Sempre em situacoes triviais, bem bobinhas do dia a dia, mas com gestos que acho que ja nao esperamos ver hoje em dia.
Alguns exemplos?
Oque mais me pegou de surpresa foi um dia que paramos num supermercado no meio da estrada (= no meio do NADA!) e resolvi comprar umas frutas. Fui direto na secao de frutas, peguei um saquinho plastico, e escolhi minhas laranjas. Dei o saquinho pro menino da balanca, esperando minha etiqueta com o preco pra poder pagar (exatamente como seria na maioria dos supermercados Brasileiros).
O menino que estava operando a balanca, olhou pra mim, pediu desculpa e se ofereceu pra escolher umas laranjas melhores. Explicou que nao tinha nada de errado com as que eu escolhi, mas ele saberia escolher algumas melhores, e que embaixo do balcao tinha uma caixa com outras ainda melhores que acabaram de chegar. Eu fiquei meio perplexa e disse que sim. Ele entao pegou outro saco plastico, escolheu meia duzia de laranjas tinindo de lindas, pesou, colou a etiqueta e me devolveu o saquinho. Detalhe, meia duzia de laranjas custou cerca de 0,50 de dolar!
Outro exemplo foi um dia que resolvemos fazer um passeios nas Dunas na costa dos Esqueletos, e reservamos tudo atravez do hotel/camping que estavamos hospedados, onde nos informaram que o passeio incluia um almoco.
Quando chegamos la, nos demos conta de que nao tinha almoco, e o guia do passeio ficou tao sem graca de que o hotel (que nao tinha nada a ver com a agencia dele) deu a informacao errada, que sem a gente nem saber (nem pagar!), ele ligou pra outro guia e pediu pra eles comprarem alguma coisa pra gente comer. E uns minutos depois, ele apareceu com algumas barrinhas de cereais, amendoins, chocolate, etc e pediu desculpas umas zilhoes de vezes.
Ou seja, todos gestos super simples, sem querer e sem ganhar nada em troca, apenas aquela gentileza e simpatia intrinseca de quem quer fazer o bem ao proximo! E isso, minha gente, eh insubstituivel, e foram esses minimos detalhes que fizeram nossa viagem TAO especial!
Mas alem da gentileza e educacao da populacao, outra coisa que me deixou muito impressionada foi a super infraestrutura do pais. Principalmente por ser um pais tao “inabitado” eu fiquei chocada de como as estradas eram tao perfeitas (meritos do legado Alemao) e bem cuidadas, como todas as cidades perdidas no meio do deserto tinham ponto de informacao, camping, posto de gasolina, supermercado com tudo – e pasmem: banheiros publicos limpissimos! Mas limpo mesmo – sempre cheirosos, sempre com papel higienico, toalinha antiseptica pra limpar o vaso, sabonete liquido pra lavar as maos, e por ai vai…
Infelizmente o legado deixado pelos colonos Alemaes nao eh uma historia 100% feliz, e como toda relacao colonizador e colonizado, muitos inocentes morreram, muita injustica foi cometida e todas quelas atrocidades que lemos nos livros de historia.
Felizmente, pra Namibia moderna, passado o periodo de incerteza e dominios, o pais acabou lucrando com os conflitos mundiais. As geracoes mais recentes de brancos Namibios “da gema” sao descendentes de familias de Alemaes e Holandeses que fugiram da Segunda Guerra, ou que fugiram da Alemanha falida pos-guerra. E foi essa geracao que moldou a Namibia de hoje em dia, pois as familias que foram parar ali estavam em busca de uma nova vida, longe dos horrores da guerra, longe da vergonha de Hitler e longe da realidade economica dura que a Alemanha se encontrou na decada de 50.
E isso mudou totalmente o perfil de “colonizador explorador” que tantos povos Europeus tiveram na Africa (e America, Asia, etc) – pois foram familias que queria de verdade construir, do zero, um pais e um futuro melhor para suas familias.
Entao oque ficou ate hoje eh justamente essa infraestrutura tao perfeita, com seguranca, com estradas, escolas, cidades, casas e uma sociedade tao contrastante, mas que de certa forma vive em perfeita harmonia – e que esta mais que pronta pra receber o mundo!
E viajar pra Namibia tambem foi facilimo!
O pais nao exige vistos de ninguem (basta que seu passaporte tenha mais de 6 meses de validade), e tem boas conexoes de voos com a Africa do Sul (oque facilita bastante quem vem tanto da Europa quanto do Brasil).
Por ser uma regiao principalmente desertica, e tao ao sul do continente, a Namibia nao tem riscos de saude como Malaria e Febre Amarela, e eh segura o ano todo (tanto para sua saude, quanto sua seguranca fisica – os indices de criminalidade beiram o zero).
O clima tambem colabora – nao faz tao frio nem tem um inverno tao chuvoso e cinza quanto a Africa do Sul, mas nao chega a fazer aquele calorao opressivo e umido da Africa central – oque mais uma vez faz com que o pais seja visitavel o ano todo (apenas os safaris – no norte do pais – ficam restritos no periodo de Novembro a Abril, devido a temporada de chuvas no Delta do Okavango).
A comida eh excelente – desde que voce nao seja vegetariano!
Por ser um sociedade basicamente dependente da caca e com pouco espaco pra agricultura, a culniaria na Namibia eh a base de carne (e muito peixe e frutos do mar no litoral), com muito churrasco (ate a churrasqueira deles eh de tijolo, tipo as Brasileiras!) de tudo quanto eh animal que se possa imaginar!
Eu acho que demorei a colocar essa viagem “no papel” aqui no blog justamente proque falei TANTO da Namibia pra amigos e familia depois que voltamos (apaixonados!) de la!