23 May 2011
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Burocracias e papeladas para trekking no Annapurna

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

O Nepal é inteirinho no meio da cadeia dos Himalaias, sem acesso a mar, planices nem nada do tipo. E boa parte do pais são areas protegidas, parques naturais e afins, que ajudam a regular o fluxo de turistas e controlar os impactos ambientais na região.

Então, não é coincidencia que todas as areas de trekking ficam justamente dentro dessas areas de proteção ambiental, e portanto é terminantemente proibido fazer qualquer tidpo de caminhada, passeio ou trekking sem as autorizaçoes e papelada oficial.

Como nós fizemos nosso trekking atravez de uma agencia não tivemos que fazer nada disso pessoalmente, mas o processo não é dificil, complicado nem caro, então não tem desculpa!

O principal motivo é mesmo a segurança. Os inspetores dos parques ambientais precisam saber quem voce é e onde esta ao longo de seu trekking, pois caso aconteça algum acidente ou emergencia, essa é a unica chance de socorro já que os vilarejos não tem hospital, pronto socorro, nem nenhuma estrutura de nada (nem telefone e muito menos nem internet!).

Mas outro motivo tanto (ou até mais) importante quanto é monitorar o impacto no ambiente e na população local. A região do Annapurna tem cerca de 100.000 habitantes, divididos em centenas de pequenos vilarejos, e recebem cerca de 36 mil trekkers por ano.

E como a maioria dessa população etnica depende economicamente desses visitantes, é muito importante que a região seja sustentavel, e que dure por muitos e muitos outros seculos.

O orgão que regula tudo isso no Nepal é o National Trust for Nature Conservation (NTNC), e na região do Annapurana, o orgão regional (que trabalham em parceria) é o Annapurna Conservation Area Project (ACAP), que tem postos de inspeção ao longo da trilha no Annapurna, e escritorios em Kathmandu e Pohkara, e as autorizações e sua “carteirinha” só pode ser feita lá mesmo, pessoalmente (ou por alguma agencia, que fazer em seu nome).

 

O primeiro passo é a carteirinha de entrada, ou o “Entry Permit”, que custa 2.000 Rupees Nepaleses (cerca de 20 dolares), e além de identificar o trekker, tambem identifica a agencia, guia e/ou carregador que vai viajar com voce (pelo que andei lendo, não é permitido escalar completamente sozinho, por questão de segurança).

Mas o mais importante (e é oque vão checar e carimbar a cada inspeção) é o “passaporte” TIMS (Trekker’s Information Management System), que funciona como se fosse um visto pra entrar na area de conservação do Annapurna, e além da identificação do trekker, indica tambem exatamente qual parte da trilha voce vai fazer, e quais checkpoints vai passar.

 

Existem dois tipos de TIMS diferente, e são divididos entre os turistas que entram no parque acompanhados por guias e/ou carregadores (seja em um grupo, ou como no nosso caso,  num grupo independente) que ganham o TIMS azul, e os turistas que se aventuram sem acompanhamento local/profissional, e carregam seu proprio equipamento e montam seu proprio roteiro, que tem o TIMS verde.

Os preços do TIMS variam de região pra região do pais, e quem pretende escalar de verdade (ou seja, escalar até algum cume) precisa de uma autorização (e preço) especial.

Mesmo pra quem pretende fazer trekking totalmente independente, pode tirar suas autorizações com ajuda de uma agencia, que ajuda a simplificar o processo.

 

 

Adriana Miller
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23 May 2011
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Annapurna dia 2: de Tirkhedunga a Ghorepani

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

O segundo dia foi sem duvida alguma o pior, mais longo e cansativo dia do trekk – e que infelizmente e consequentemente impactou todo os outro dias!

E foi um dia com pouca coisa pra falar pois passamos o dia todo fazendo exatamente a mesma coisa! Subindo escadas!

No total foram praticamente 8 horas seguidas subindo degraus e escadarias vertiginosas na beirada das montanhas.

Mas neh, como tudo nessa vida, um passo apos o outro!

O dia comecou lindo, com sol e otimas paisagens, e mais uma vez chegamos a conclusao que o melhor clima pra caminhadas eh quando esta nublado e ate mesmo com neblina, pois ameniza um pouco o calor do esforco do exercicio fisico…

Fizemos algumas paradas estrategicas para foto & oxigenio ao longo do dia, mas o guia na dava moleza, e sabia que quanto antes chegassemos me Ghorepani, melhor. Alem disso ele ficava repetindo incansavelmente que o “clima no Himalaias eh imprevisivel” e nao era porque estava sol naquele momento do dia, que faria sol o dia todo…

Na metade do dia paramos pra almocar no vilarejo Uleri (o bom de viajar com os guias locais eh que eles conhecem todas essas familias, entao sabem exatamente quam cozinha bem e quem cozinha mal, e tivemos refeicoes incriveis todos os dias!) e foi mais ou menos assim: a “mae” da casa botou a mesa pra gente e nos mostrou o cardapio. Decidimos oque queriamos comer (as opcoes sao pouquissimas, e acabamos comendo basicamente a mesma coisa todos os dias), e entao ela desceu na horta pra colher os ingredientes do nosso almoco e comecou a cozinhar tudo ela mesma no fogao a lenha da casa!

Nunca me senti tao saudavel na vida!!

Eu vi ela tirando da terra as batatas e a couve, 3 minutos antes de entrar na panela! Eh ou nao eh incrivel!?

E enquanto esperavamos a comida, a profecia do Deepak, nosso guia, se materializou: de um segundo pro outro comecou um vendaval com umas nuvens pretas de dar medo! Depois vieram os raios e trovoes, e quando a comida ficou pronta, ja estava caindo um temporal!!

Entao aprendemos o verdadeiro significado do ditado “quem ta na chuva eh pra se molhar”, e depois do almoco colocamos nossas capas ipermeaveis e seguimos nosso caminho! Nesse ponto em diante, ainda tinham cerca de 4 horas de caminhada!

A chuva deu uma aleviada, mas a medida que iamos ganahndo elevacao e ficando mais e mais altos na montanha, o tempo foi ficando cada vez pior, e voce jurava que um dos raios iam cair na sua cabeca! Estavamos Literalmente DENTRO da nuvens!!

Ate que um novo temporal chegou com toda forca! Mas chovia tanto, mas tanto que nao tivemos escapatoria e nos refugiamos numa tenda/curral que apareceu pelo caminho…. e ali ficamos plantados por cerca de 1 hora enquanto o mundo desabava la fora! Mas era muita agua! E a agua foi se transformando em gelo, com umas bolotas de granizo de dar medo!

Mas nesse ponto do dia, ja estavamos tao pertinho (faltavam umas 2 horas so) do vilarejo final, que juntamos todas as nossas forcas, e com chuva ou sem chuva seguimos a trilha!

E nao sei se foi a chuva, se foi o cansaco das 6/7 horas anteriores…. sei lah, soh sei que a reta final pra entrar em Ghorepani foi torturosa! O degraus eram maiores e mais largo, e portanto mais dificeis e cansativos de andar, o chao estava molhado e elameado, e a sensacao geral eh um misto de calor (por dentro da roupa de chuva) com o vento frio da chuva e dos Himalaias.

E quando finalmente chegamos a Ghorepani, foi praticamente cena de filme… dava pra ver bem nitidamente que a vila ficava no topo de uma montanha, bem de frente pro Annapurna, com suas casinhas pintadas de azul e tal…

Entao la estavamos nos dois tranquilamente tirando fotos, e com aquele alivio de “ah…. chegamos! Acabou!” quando eu comecei a ouvir um barulho ensurdecedor! Por algumas fracoes de segundos ficamos nos olhando do tipo “que barulho eh esse?!”, e ainda estavamos no meio da pracinha, a uns 100 metros da nossa Tea House. Mas o temporal se aproximando era tao forte e violento, aquela massa cinzenta de agua e pedras de gelo, que o barulho ensurdecedor que estavamos ouvindo era a chuva e o granizo batendo nas pedras e no telhado das casas!

Entao foi uma coisa assim camera lenta…. saimos correndo em direcao ao alojamento, com o guia na janela fazendo sinal de “corre logo”, ainda com nossas mochilas nas costas e o barulho da chuva chegando cada vez mais perto!

Quando finalmente chegamos na parte coberta da casa, ja sendo molhados pelos primeiros pingos que tinham nos alcancado, caimos na gargalhada!! Foi muito engracado! Cena de filme mesmo, com todos os outros guias e hospedes assistindo da janela, e torcendo pra gente conseguir fugir da chuva a tempo!! E o Aaron ainda comentou: Esse sim seria um momento perfeito pra ter feito um video pro Blog! Hahahahah

Entao o resto da noite ficamos na beira da lareira no salao principal da Tea House (que dessa vez era bem grandona), onde jantamos e nos preparamos pra sair de casa no dia seguinte as 3 da manha!!

Adriana Miller
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22 May 2011
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Annapura dia 1: De Nayapul a Tirkhedunga

Annapurna, Dicas de Viagens, Nepal

O primeiro dia do trekking comecou facil – e bem cedo!

O dia comecou emocionante, e apesar de algumas nuvens no ceu, nos comseguimos ver parte dos Himalaias pela janela do hotel, que mesmo as 6 da manha, dá energia extra pra qualquer pessoa!!

Saimos do hotel em Pokhara e fomos de carro ate Nayapul, que eh o vilarejo de onde partem varias trilhas no extremos oeste do circuito do Annapurna.

Em Nayapul vimos um pouco de tudo… dos turistas super preparados e equipados, prontos pra comecar o primeiro de seus 25 dias ao redor das montanhas mais altas do mundo, mas tambem varios outros grupos que estavam ali apenas pra dar uma voltinha, caminhar por algumas horas ao longo do dia e voltar pra Pokhara.

Logo quando colocamos os pes na trilha e comecamos nossa caminhada (que seria um primeiro dia “facil” – apenas 6 horas!) o tempo abriu completamente e vomos premiados com um sol espetacular!

O unico problema eh eh um tempinho depois, esse mesmo sol se tornou nosso inimigo numero 1!! A temperatura subiu rapidinho a medida que o dia ia avancando e a trilha ia ficando mais e mais ingreme!

Mas esse primeiro dia foi uma otima introducao ao que vinha por ai.

Eu ja tinha lido bastante sobre a regiao Himalaia, e como a populacao local se adapatou ao meio ambiente ao longo da evolucao e ocupacao da regiao, mas nunca pensei que fosse tanto! Principalmente nesse comeco de trilha, a cada meia hora mais ou menos passavamos por um vilarejo diferente, que variavem entre 1 unica casa/familia, ate algumas dezenas de casas, cercadas de pastos e fazendinhas por todos os lados.

Outra coisa que infelizmente eu li bastante a respeito e vi que era verdade, sao as marcas que o “desenvolvimento” estao deixando nos Himalaias.

Felizmente a regiao eh muito bem controlada pelo governo e ainda nao foi afetada por lixo e poluicao, mas por outro lado, por mais que a regiao do Annapurna seja uma area protegida e parque ecologico, a regiao tambem abriga centenas de pequenas vilas, e cerca de 100.000 pessoas nasceram, cresceram e vao morrer or ali. E para essa populacao (quase todo de origem etnica minoritaria, principalmente os “descendentes” e refugiados do Tibet) O Annapurna eh sua casa e sua vida, e eles tambem precisam de ter condicoes minimas de sobrevivencia. Precisam de escolas, hospitais, policiamento, acesso a suprimentos.

Por isso o governo esta construindo estradas entre algumas das vilas, que por um lado facilita bastante a vida de quem mora por lah, e os aproxima da “civilizacao”, mas por outro lado, infelizmente, afeta demais o meio ambiente, destroi as trilhas ecologicas, muda a aparencia da montanha e acaba com part do fascinio de “isolamento” que os Himalaias tem.

Mas em compensacao, essa impresao soh durou parte do primeiro dia, enquanto ainda estavamos proximos de Pokhara, e a medida que fomos entrando e entrando nos vales, todo sinal de civilizacao ficou pra tras!

Entao la promeio da tarde (6 horas depois…) chegamos em Tirkhedunga, nossa primeira parada e nossa primeira Tea House!

Ficamos numa tipica casa Himalaia, onde mora uma familia, que aluga os quartos construios no andar de cima para turistas. O Avo e a avo organizam tudo e a mae e as criancas cozinham para os visitantes (os homens geralmente migram pras cidades grandes mais proximas e trabalham por lah durante toda temporada, enquanto as mulheres ficam nos vilarejos cuidadndo da casa e das criancas).

Uma casa super simples, e nosso quarto era nada mais que 1 porta, 1 teto e 3 paredes. Mas a cama era conformtavel, o chuveiro morno (frio pelos meus padroes, mas o Aaron gostou…) e a comida deliciosa!

Na mesma Tea House estavam tambem 2 familias Alemans e um casal de Coreanos, que depois cruzamos varias outras vezes nos outros dais da trilha e viraram nossos melhores amigos!

E foi justamente isso que eu mais gostei nesse esquema “tea House” do Nepal: no fim do longo e cansativo dia, voce chega “em casa”. Pode se jogar no sofa confortavelmente, comer uma comida caseira super bem feita (nao ha nada mais organico que aquilo!) e bater papo com a familia pra relaxar.

Conhecemos muita gente diferente e legal ao longo dos nosso 7 dias de trilha, vindos da mais variadas partes do mundo, mas todo com o memso objetivo, e com aquela energia boa que so o Nepal tem!

Depois que o sol se pos, jantamos e demos inicio a rotina que se repetiu todos os dias – ir pra cama com as galinhas, pra termos uma longa noite de sono e acordar de novo no dia seguinte assim que o sol nascer!

 

Adriana Miller
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