San Isidro é o patrono da cidade de Madrid, e claro, como nao podia deixar de ser, é epoca de festa na cidade.

O clima de festa durou a semana toda. As aulas acabavam mais cedo, o comercio fechava mais cedo.

Com a chegada do fim de semana, as comemoraçoes aumentaram e a cidade esteve cheia de eventos por todos os cantos.

Aqui no centro de Madrid, a festa esteve concentrada na Plaza Vestillas, no final da Puente de Segovia e do Palacio Real.

Shows, batucadas, e muita gente na rua!! Um verdadeiro carnaval. Apesar do frio que retornou e nos surpreendeu (semana passada estava fazendo uma media de 20 graus, e no sabado estava fazendo 6 graus), o jardim da praça e as ruas do bairo da La Latina estavam repletos de gente.

O legal das festas aqui, é que tem de tudo, pr todos os gostos. Vc ve os espanhois comemorando suas festas desde que sao bebezinhos, até bem velhinhos.

Tinha familias com carrinho de bebe, casais com idade bem avançada, e jovens de todas as faixas etarias, lotando os bares, fazendo Botellon e disputando cada palmo da grama.

Essa festa comemora o San Isidro, que era um pastor, entao rege a tradiçao que as pessaos se vistam com trajes tipicos de camponeses, bebam vinho, comam roscas e cozido Madrileño. Pena que eu nao consgui tirar foto de ninguem usando a roupa tipica, que parece uma roupa de festa junina misturada com Sevillana (as dançarinas de Flamenco).

A festa foi muito divertida, e como sempre, rendeu boas risadas e bons momentos. Nao tirei muitas fotos, pq tinha tanta gente e tanta confusao, que fiquei com mdo de chamar muita atençao e ser roubada novamente (mas isso é assunto pra um proximo post). O unico porém, é que a festa estava um pouco longe da minha casa, e na hora que resolvi voltar pra casa, antes de virar um picolé, eu nao conseguia encontrar taxi em lugar nenhum, e o metro ainda estava fechado… resultado: 1 hora e meia caminhando madrugada a dentro, morrendo de frio, um mau humor que Deus me livre (tive que largar meus amigos pra tras antes que alguem resolvesse cortar relaçoes de vez comigo, tamanho o nivel de rabugentisse!) e de brinde acordei com a garganta inflamada e uma febrezinha de leve…. mas nada que me impedisse que aproveitar a festa do dia seguinte, e depois e depois…

A viagem pra Portugal foi looooonga… A ansiedade nao me deixava dormir no onibus (isso pq eu sou que nem criança…. onde me encosto durmo…), e ficava imaginando como estariam as pessoas, se iam lembrar de mim, como estaria a cidade, etc… Mandei milhoes de mesangens pras minhas amigas pra elas nao esquecerem que eu ia chegar, e nao me deixarem plantadas na estaçao!

Quando cheguei no Porto, ainda tinha que resolver uns problemas e pedir 2ª via dos meus documentos que foram roubados em Valencia; porém eu tinha me esquecido de um peuqueno detalhe… existe diferença de horario entre Espanha e Portugal entao eu tive que esperar nada mais, nada menos que 4 horas na porta da Loja do Cidadao!!! Pra piorar, estava um frio de rachar e nevoeiro cerrado (e eu achando que ia chegar lá no maior verao!!)! Quase morrendo de frio, escondido num cantinho do predio (pq o taxista me apavorou e disse que essa area era muito perigosa!!), vesti todas as minhas roupas, uma por cima da outra, tentei ler, mas o novoeiro nao permitia, e acabei dormindo na calçada sentada na minha mochila!! Coisas que só acontecem comigo… De vez em quando acoradava e dava de cara com alguem assustado com a presença de uma mendiga na area!!! Hahahahahahaha. Bem, burocracias resolvidas, uma amigo foi me pegar pra me levar na estaçao de trem. Nao nos viamos ha 10 anos, e rolou uma tensao basica de “será que ele vai me reconhecer? Será que eu o vou reconhecer?!”. Acabou que ele nao mudou nada nem eu, e aproveitamos pra botar o papo em dia tomando um café.

No trem a caminho de Cinfaes acabei pegando no sono, apesar do nervosismo (já falei… onde me encosto, durmo), quando abri os olhos, dei de cara com a paisagem inconfundivel do Rio Douro, a barragem, a ponte e o casarão de Porto Antigo que agora virou um hotel 5 estrelas. Reconheci na mesma hora!!! Cheguei!!! Nao conseguia acreditar! A Fabiola estava me esperando na estaçao, ela tb nao mudou nada, e as duas começaram a gritar como duas retardadas pulando nos trilhos do trem!!! Começamos a falar e nao paramos mais!!! Era tanta coisa pra contar…

Quando chagamos na Vila, eu me senti num filme de ficçao cientifica… As ruas… minha casa… a Igreja… o jardim da praça… a minha escola… a quadra onde eu jogava HandBall… o rio onde ia nadar no verao… o banco de madeira onde dei meu primeiro beijo… andar nas ruas e reconhecer todo mundo,e o mais engraçado era ver que as pessoas tb me reconheciam! Tive alguns momentos de super star, coisas de cidades pequenas…

Visitar a familia, ver primos que cresceram, outros que eu só conheci quando ainda estavam na barriga… amigas que casaram, amigos que tiveram filhos… gente que saiu de Cinfaes, gente que continua por lá…

Foi um fim de semana de muita reflexao sobre a vida. Sobre o passado, o presente e o futuro.

Fiquei tentando imaginar como teria sido a minha vida se eu nunca tivesse ido morar no Brasil. Nao só em termos geograficos, do tipo ¿estaria morando aqui ainda? Teria ido pro Porto? Estaria casada? Estaria solteira?¿ etc… mas pensando tb em mim mesma, como pessoa, minha personalidade e como me vejo no mundo.

Ir morar no Rio de Janeiro aos 15 anos, saindo de uma cidade que tem + ou ¿ 10.000 habitantes (acho que estou chutando alto demais), estudar num colegio gigante onde ninguem te conhece, ser tratada como gringa, dificuldades na escola, dificuldades de adaptaçao em geral, sozinha (eu e minha irma fomos antes que meus pais, por causa do ano escolar no Brasil), a falta da liberdade de ir e vir, insegurança etc… transformou minha personalidade drasticamente, de uma hora pra outra, sem eu nem me dar conta.

Hoje em dia, olho pra tras e agradeço pela decisao dos meus pais. Estou muito feliz e satisfeita com o rumo que minha vida tomou, e nao me imagino vivendo outra vida que nao seja a minha mesma. Mas foi inevitavel tentar imaginar o ¿como poderia ter sido¿, e fazer comparaçoes entrar as pessoas que eu reencontrei.