Na vida eh tudo uma questao de prioridades e perspectiva.
Se alguem perguntar para uma noiva: “Qual eh seu maior medo?” as repostas podem variar desde “uma espinha na minha testa” ateh a “morte”. Na minha cabeca, acho que a pior coisa (alem de morte, por motivos obvios) que poderia acontecer com uma noiva, eh ficar sem um noivo.
Sabe aquela coisa de filme? A noiva abandonada no altar? O casamento cancelado, e aquela confusao, humilhacao, etc?
Bem, nada disso aconteceu, mas foi essa cena que passou pela minha cabeca quando estavamos na fila da imigracao no aeroporto do Rio e um agente da policia federal veio buscar o Aaron e levar ele pra salinha dos deportados. Aquelas fracoes de segundo foram o fim do mundo na minha vida.
Mas vou comecar a historia pela principio, e tudo que aconteceu ontem foi TAO surreal, mais TAO surreal, que se por acaso vc esta lendo esse blog e nao acreditar em uma unica palavra que eu escrever, eu te entendo. Se alguem tivesse me contado, tambem nao teria acreditado.
Bem, nem vou entrar no merito da confusao que foi pra conseguir sair do trabalho, chegar no aeroporto, embarcar com o vestido, viajar em assentos separados, etc. Isso fica pra outro post, porque na comparacao com o resto do dia, foi peanuts.
Quando finalmente chegamos no Rio, passamos juntos pela fila de imigracao de estrangeiros. A agente abriu o passaporte do Aaron e comecou a procurar o visto. Ai ela fala pra mim e fala: “o visto dele eh do ano passado”. Eu sei, eh que junho do ano passado quando viemos da ultima vez. “Nao. O visto dele EXPIROU ano passado”.
IMPOSSIVEL! Eh um visto de 5 anos, entradas multiplas, emitido pelo consulado de Londres e custou 80 libras.
OK. Vou conferir.
Ela chama um engravatado, que entra pela portinha de tras, leva o passaporte dele, e nos deixa sem entender oque estava acontecendo… Dai a uns 5 minutos veio um outro engravatado pedindo que o Aaron o acompanhasse pra sala de transito porque a entrada dele no pais estava sendo negada.
COMO ASSIM??!?!??!
Fui junto, largamos tudo pra tras, o Aaron nao estava entendendo nada! Uma correria pra cima e pra baixo, policiais federais cochixando a nosso respeito, e ninguem falava nada.
Ateh que uma menina da Air France veio me explicar que o visto que deram pro Aaron ano passado era invalido, pois era valido apenas por 90 dias depois da 1 entrada.
Eu sabia muito bem que isso era impossivel, porqu eu mesma fiz a solicitacao e paguei as taxas no Banco do Brasil.
Bem, alguem no consulado Brasileiro passou a perna no seu marido e embolsou seus 80 libras, pois o visto dele nao soh nao eh de 5 anos, como ainda diz “gratis”.
Que ODIO!!!!!!!
Mas ateh provar que fucinho de porco nao eh tomada… Dai pra frente foi tudo muito surreal. A Policia Federal querendo mandar ele de volta pra Londres, deportado, eu (ainda carregando meu vestido de noiva) chorando e correndo de um lado pro outro. Ligando pro meu pai, meu avo, meu tio… ALGUEM que conhecesse alguem, que conhecesse alguem…
No final a tal menina da Air France conseguiu passar um papo no agente da policia federal e deixaram que o Aaron “saisse” do pais, sem deportacao (se nao, ele nao podeia voltar nunca mais, por um prazo de sai lah quantos anos). Ou seja, pela situacao em que estavamos, a Policia Federal fingiria que ele nem estava ali, desde que ele saisse do pais no mesmo dia.
Entao essa menina recomendou que em vez de voltar pra Londres, que ele deveria ir pra Argentina, porque Americanos nao precisam de visto, e tem um consulado Brasileiro em Buenos Aires. E se eu fosse com ele, como Brasileira eu podeira pedir “azilo” e um visto de emergencia, para que meu marido pudesse ir em seu proprio casamento!
Muito bem, eu desembarquei, entrei naquela fila GIGANTE da alfandega (voo chegando de Miami eh phoda!) e sai correndo! Meu pai estava me esperando do lado de fora, e levou todas nossas malas e o vestido de noiva. E eu sai correndo pro Balcao da Aerolineas Argentinas. Conseguimos as ultimas vagas num voo que saia 40 minutos depois.
Enquanto eu pagava a passagem (a passagem mais cara da historia. E a vista!), meu pai foi abrindo as malas e tirando tudo que aprecia ser de “frio”, pois nao sabiamos quanto tempo teriamos que ficar em Buenos Aires (a estimativa da policia federal era que – com sorte – conseguiriamos um visto emergencial em 2 ou 3 dias uteis), e a menina da Air France recebeu uma autorizacao da policia pra fazer o check in pelo Aaron (ela nao podeia sair da tal salinha dos deportados, se nao, seria de fato deportado!).
Pronto! Mais uma correria pra embarcar!
As 3 horas que passamos dentro daquele aviao indo pra Buenos Aires as 8 da manha de sexta (3 horas depois que nosso voo chegou de Paris), foram as mais longas da minha vida.
Tudo que passou pela nossa cabeca… Ele sendo deportado e nao podendo voltar ao Brasil nunca mais. O casamento sendo cancelado, e todas as alternativas que teriamos. Pensamos nas coisas mais esdruxulas possiveis: Tentar um visto de emergecia via a empresa dele, voltar pra Londres e tentar um visto de emergencia lah, entrar ilegal pela fronteira do Paraguai, pegar um onibus e ir pro consulado do Uruguay, etc, etc.
E o tempo todo eu soh pensava: “Ironico que ha algumas horas tras minha unica preocupacao era se o vestido ia amassar, ou se ia fazer sol” e toda vez que me imaginava ligando pra todos os convidados pra avisar que o casamento tinha sido cancelado, caia no choro.
Saimos do Aeroporto de Buenos Aires e fomos direto pra Embaixada, voando! No caminho fui mandando e-mail pra todo mundo que conheco pedindo ajuda. Se alguem conhece um advogado, se alguem conhece algum diplomata, etc.
Ligava incasavelmente pro consulado Brasileiro e ninguem atendia, soh uma gravacao maldita!! E ele ligava pro consulaod Americano, mas nao acho que eles poderiam fazer muita coisa…
O prazo para dar entrada em pedidos de visto era 13:00 e jah eram 12:20…!!!!
Oque nos salvou foi que meu pai (a quem herdei a capacidade de se manter calmo em situacoes de estresse altamente irreais) mandou um e-mail pra consul da BA explicando oque tinha acontecido, quem eramos, em que voo estavamos, etc.
Quando entramos no consulado, as 12:25 a moca do atendimento (ANJO!) me olho e disse “voce que eh a menina que casou com um americano em Londres? Seu pa jah explicou tudo! Fica calma que vamos dar um jeito. O unico problema eh que TEMOS que dar entrada no sistema ateh as 13 horas”.
OK. Oque precisamos fazer?
“Preciso de uma foto 3×4, um extrato bancario e um comprovante de residencia”
OQUE?!?!?!??! Onde vamos arrumar isso? Agora?!??
Saimos correndo pelas ruas de Buenos Aires. Na descida do elevador, ele foi escrevendo suas senhas do banco. Eu corri pra um lado catando um cyber cafe com impressora, e ela saiu correndo pro outro lado, catando um lugar pra tirar fotos.
Voces nao tem ideia da correria que foi. Parecia uma gincana do “Amazing Race” da MTV. Eu olhava pro meu relogio e via: mais 15 minutos. Soh mais 12 minutos. Soh mais 8 minutos.
E nem sabia onde ele estava.
Sai correndo pela rua e enquanto eu balancava os extratos no ar, ele gritou que estava com as fotos.
Corri, como nunca corri na vida.
Sabe aquela expressao “vai tirar o pai da forca”? Deverim trocar para: “vou tirar o visto do marido”.
Entramos no consulado e o seguranca fechou as portas 3 segundos depois.
Ai a Consul veio falar comigo pessoalmente. Eu expliquei oque aconteceu, ela me explicou o procedimento. Me explicou que o consulado de BA nao atende a emergencias de extrangeiros, mas como eu estava ali, e era Brasileira eles tinham obrigacao de me ajudar em carater de urgencia.
Soh tinhamos mais uma tarefa: Pagar a taxa de 496 pesos no Banco Itau. Se tudo ficasse pronto ate as 3 da tarde, ela me dava o visto no memso dia!
Quase dei um beijo na boca dela!
O Aaron ficou preenchendo formularios e eu sai correndo mais uma vez, catando o Banco Itau de BA. Quando finalmente achei, logicamente estava aquela confusao, gritaria de Brasileiros resolvendo pepino e fiquei simplesmente 1 hora na fila!
Nossos celulares nao funcionavam por algum motivo, entao nao conseguiamos nos comunicar. O Aaron coitado, achou que eu tivesse saido correndo e tivesse sido atropelada no meio da rua! E comecou a ligar pra mae dele, que por sua vez ligou pra irma, que por sua vez tinha o telefone da minha mae, pra ver se ela tinha recebido alguma ligacao de hospital! HAHAHAH
Mas voltei a tempo, demos entrada em tudo, e uns minutos depois, a Consul voltou com o visto novo do Aaron!!
Comecei a chorar, ele chorou… Nao demos um beijo e um abraco na consul porque ela estava tras de uma janela!
Bem, voltamos pro Aeroporto. Nossas passagens eram pra terca feira, mas logicamente queriamos tentar o primeiro voo disponivel. Tinha mais um voo sindo em menos de uma hora.
Paga mais uma taxa aqui, outra taxa ali (afinal, oque eh um paido pra quem jah esta cagado?), e voltamos pro Rio.
Passamos pela imigracao sem problemas, e quando finalmenet consegui achar um orelhao pra ligar pros meus pais e voltar pra casa, eles jah tinham saido pra ir na colacao de grau da minha irma e nao tinhamos chave.
Ainda ficamos fazendo uma horinha no aeroporto. Fizemos nossa primeira refeicao em 36 horas, mas o cansaco fisico e mental estava insuportavel.
Acabamos indo dormir no hotel do aeroporto, porque simplesmente nao dava pra esperar mais nem um segundo.
Entao soh cheguei em casa hoja, sabado dia 19 as 8 da manha.
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Agora que tudo deu certo e estamos no Rio, eh incrivel como nao jah nao estou nem ai se vai chover ou fazer sol. Se a festa vai estar perfeita ou nao. Se as flores serao como imaginei. Se o vestido vai amassar. Se a unha estara bem feita. Se muita gente vai faltar. Ou se muitos penetras vao tentar entrar…
Nos momentos de desespero, e que eu via todos os nossos sonhos do “grande dia” indo por agua abaixo, eu repetia pra mim mesma qual era o motivo real de passar por isso tudo.
Nao eh a festa. Nao eh o vestido. Nao sao os presentes, muito menos o bolo ou os bem casados. E sim o nosso casamento. A vontade de ficar junto pro resto da vida.
Tenho certeza que teremos o casamento mais perfeito do mundo, pelo simples motivo que ele estara lah, do meu lado.
E tudo acabou bem.
E a certeza de que o Aaron eh o amor da minha vida, e por ele eu faria tudo de novo.