Nossa, ha muito tempo que eu nao falava sobre Recursos Humanos por aqui, heim?
Pois eh, mas estive pensando bastante no topico acima recentemente, principalmente depois que vi uma manchete do jornal ha umas semanas atras: a reportagem pegava carona no drama/panico da crise financeira que assola a Europa e fez um dramalhao sobre o perfil de uma menina (que estampava a capa da reportagem com uma cara de triste e desiludida), que tinha acabado de se formar, cheia de energia e qualificacoes e nao conseguia arrumar nenhum emprego (nem sequer entrevistas!) apesar dos mais de 3.000 aplicacoes para vagas que ela tinha enviado.
Eu imediatamente revirei os olhos… Afinal, alem do panico e sensacionalismo descenessario criado pela reportagem, pelo ponto de vista de Recursos Humanos, a coisa nunca eh tao assim preto no branco. Claro que a recessao ajuda (quer dizer, atrapalha, e muito), mas existem dezenas de outros fatores e indicativos na reportagem que mostravam que na verdade, ela estava fazendo TUDO errado em sua estrategia pra encontrar um emprego.
Entao eu fiquei pensando em todos os pedidos de “revisao de curriculo” que eu recebo de leitores e conhecidos, e uma situacao engracada que passei no outro dia, durante o recrutamento de uma nova vaga para minha equipe.
Volta e meia algum leitor(a) me manda e-mails pedido ajuda a revisar seu curriculo, dicas de como fazer seu curriculo se destacar e afins, e infelizmente eu quase nunca sei responder essas mensagens.
Por um lado, porque realmente nao tenho tempo. Mas o principal motivo, mesmo, eh que eh impossivel revisar um CV sem ao mesmo tempo ter acesso a vaga a qual aquele curriculo se refere.
Quer dizer, ate da: sempre eh bom pedir pra alguem dar aquela olhada final, pra garantir que voce nao esta enchendo linguica desnecessariamente, que nao tem erros de gramatica nem de digitacao e tal. Mas ai ninguem precisa ser especialista em RH pra fazer isso. Sua mae, marido, namorada, amiga… qualquer um pode fazer uma revisao final.
Porem isso nao significa que seu curriculo esta “bom”, pois simplesmente nao existe “curriculo bom” – os CVs bem sucedidos sao aqueles que se encaixam perfeitamente aos requerimentos de uma vaga especifica.
Ou seja, usando o exemplo da reportagem que dei acima, o erro numero um da menina foi escrever seu CV, salvar o arquivo em seu computador e comecar a enviar candidaturas desenfreadamente, sem parar pra analisar as nuances e especificacoes de cada vaga, e ir adaptando seu perfil, a ordem das experiencias, os adjetivos usados, incluindo e excluindo cursos e extras etc, de acordo com o que cada vaga pede.
Ou seja, se ela se candidatou a 3 mil vagas, deveria ter escrito 3 mil CVs!
Nunca trate seu curriculo como um documento final, estatico. Cada empresa, cada vaga, cada equipe e cada chefe procura um perfil especifico e unico – voce ate pode se encaixar e moldar a todos eles, mas se isso nao estiver explicito naquela folha de papel, esquece. Se voce nao demostrar suas capacidades unicas, naquela oportunidade unica, ninguem nunca vai saber!
E acredite, pelo ponto de vista de recrutadores e gerentes, ninguem esta disposto a dar “chances”, nem “arriscar” e muito menos deixar alguem “dar o primeiro passo”, quando na verdade eh o seu sucesso que tambem esta em jogo.
Recrutamente eh uma coisa muito cara pras empresas, e achar alguem, passar por todo processo de inducao e treinamento ate que aquele novo candidato esteja pronto pra desempenhar um cargo da muito trabalho e exige muitos recursos de todos os envolviddos. Entao esse conceito de que qualquer coisa serve soh pra dar o “primeiro passo” eh uma ilusao que na verdade nao se contretiza na pratica.
Entao no outro dia aconteceu uma coisa curiosa comigo.
Aqui estava eu, revisando curriculos que recebi de um recrutador para uma vaga em minha equipe. Meus requerimentos e exigencias eram bem especificos: eu sei muito bem oque preciso atingir atravez da minha equipe, e ja tinha uma ideia formada sobre oque queria encontrar – como gerente e chefe, uma boa adaptacao com o resto da equipe e do departamento, e claro, o trabalho a ser feito.
Alguns CVs foram descartados na hora, ja alguns outros conseguiram captar minha atencao a ponto de querer “gastar” meu tempo pra conhecer aquela pessoa pessoalmente (afinal, a entrevista eh pra isso mesmo).
Um desses CVs era de uma menina cujo nome me soou familiar. O engracado eh que o nome dela eh super comum aqui na Inglaterra, e nada demais, mas fiquei com aquilo na cabeca.
O CV dele era otimo, direto ao ponto exato do que estava procurando, ate que cheguei a descricao de sua vaga anterior e BOOM! Ja trabalhamos pra mesma empresa! Por isso seu nome era familiar…
Por sorte (ou azar, neh?!) eu lembrava dela, sabia bem oque ela de fato fazia nessa empresa (e portanto sabia que ela tinha “embelezado” demais sua experiencia), e principalmente, sabia os reais motivos que a levaram a ser demitida daquela empresa, e que portanto nao queria te-la em minha equipe.
E qual a moral da historia?! Sem duvida alguma ela escreveu seu CV com todo cuidado, especificamente para minha vaga. Ela leu nas entrelinhas da descricao da vaga, da equipe e do trabalho que eu estava procurando, e soube focar seus pontos fortes, e esconder seus pontos fracos, de tal maneira que imediatamente seu CV captou minha atencao.
Ou seja, se nao fosse a coincidencia de que ja trabalhamos juntas, com certeza absoluta ela teria sido convidada para uma entrevista – e dependendo de sua desenvoltura durante a entrevista, poderia ate ter conseguido o emprego, apesar de tecnicamente, nao ser a pessoa mais qualificada para a vaga.
Entao algumas dicas de coisas pra ficar de olho, e ir adicionando, retirando e modificando em seu CV a CADA vaga que voce se candidatar:
– Qualificado demais, ou qualificado de menos?
Um dos principais erros cometidos por candidatos eh nao saber identificar, realisticamente, sua capacidade de se encaixar ou nao numa vaga especifica.
Quem nunca olhou pra uma vaga e pensou “Ah, eu consigo fazer isso!”?! Das duas, uma: ou voce pensou “tenho experiencia de sobra, e eh obvio que consigo fazer isso de olhos fechados”, ou voce pensou “Parece facil. Nunca fiz isso, mas ja li um livro/fiz um curso/estagio/etc, se alguem me der uma chance, conseguirei aprender bem facil”.
Ambas as respostas estao erradas, e provavelmente nenhum dos dois candidatos vai ser convidado pra uma entrevista.
Do ponto de vista da empresa e do gerente da vaga, um processo de recrutamento eh um grande risco. Eh caro. Eh estressante e cria uma grande impacto na performance da equipe.
Selecionar candidatos, fazer dezenas de entrevistas, contratar e treinar alguem… eh muita trabalheira envolvida pra voce simplesmente dar a vaga a alguem que por mais que voce saiba que sabera fazer tal trabalho sem grandes dificuldades, vai ser dificil de reter e motivar.
Por um lado, o candidato qualificado demais: “Esse candidato ja tem X decadas de experiencia na coisa tal, porque ele quer se rebaixar? Como vou conseguir motiva-lo a longo prazo? Qual sera o impacto de sua experiencia no equilibrio e igualdade no resto de minha equipe?”.
A realidade eh que de maneira geral, gerentes preferem um candidato que seja levemente inexperiente, pois essa pessoa sera mais facil de treinar, de se adapatar e, principalmente, tera motivacao suficiente pra permanecer na vaga por mais tempo.
Mas entao, qual a desvatagem do candidato inexperiente?!
A desvatagem nao eh necesariamente a inexperiencia, e sim nao saber demonstrar (afinal um CV eh apenas um pedaco de papel…) como o pouco de experiencia que voce tem podera ser util para aquela vaga especifica, ou quais outras qualificacoes e experiencias voce tem que podera ser mais ultil do que X decadas de carreira.
Um exemplo bem simples foi quando escrevi sobre carreiras internacionais: e que as vezes o simples fato de voce ja ter morado fora, falar outras linguas e ter feito um mochilao, por exemplo, podem ser apresentados de maneira que voce pode convencer seu “futuro” chefe, que voce tem muito mais talento pra relacoes internacionais doque o cara que fez faculdade de Relacoes Internacionais e passou os ultimos 5 anos revisando contratos de logistica.
– Seja objetivo:
Nao sabe como moldar e “se vender” atravez de seu curriculo? Faca bom uso das cartas de apresentacao, que eh uma meneira mais “livre” de vender seu peixe, de falar mais abertamente sobre suas razoes para QUERER aquele emprego e seguir aquela carreira (se voce nao sabe como responder esses dois pontos, entao nem deveria estar se candidatando a essa vaga…).
Um bom exemplo? Mostre que gracas ao seu mochilao, voce teve que gerenciar um orcamento restrito a longo prazo, teve que lidar com imprevistos e timelines, planejamento antes e durante a viagem, e sem nem falar em todas as qualificacoes “sociais” de ter feito amigos, aprendido a conviver com culturas e linguas diferentes. E isso minha gente, faculdade nenhuma, nem nenhum cursinho da FGV vai te ensinar.
Lembre-se que cada carta de apresentacao ou “objetivo” (aquele primeiro paragrafo do seu CV onde voce se apresenta) deve ser UNICO e escrito especificamente praquela vaga (principalmente em se tratando de cartas). Uma carta de aprensetacao “one size fits all” (Tamanho unico), na verdade nao veste bem a ninguem.
E por favor: evite frases feitas e cliches do tipo “profissional ambicioso, disposto a crescer na carreira” e afins, que falam, falam e nao dizem nada.
– Crie perfis:
Voce pode ate nao sofrer de personalidades multiplas, mas com certeza sabe fazer mais de uma terefa, tem preferencia/interesse por mais de uma area ou industria, tem experiencia em lidar com diferentes situacoes.
Pronto. Cada um desses cenarios deve virar um CV diferente, com foco e destaque a diferentes experiencias e situacoes, que mostre seus pontos fortes por diferentes angulos.
– Da trabalho!
Muitas vezes, achar um bom emprego, eh um emprego por si soh!
Tudo isso que eu escrevi, da trabalho, gasta seu tempo e sua paciencia… Afinal, num periodo de tempo que voce poderia sentar em seu computador e “enviar” 37 CVs, talvez voce so consiga mandar 1 ou duas aplicacoes.
Mas se isso aumenta suas chances de sucesso, que diferenca faz? Quem disse que numa carreira de sucesso o importante eh a quantidade, e nao a qualidade?
Afinal a unica coisa que voce quer eh aquele emprego, aquela chance (unica) na sua carreira. Entao de que adianta pensar que “mandei 52 curriculos hoje!”, se empresa nenhuma vai te chamar pra uma entrevista? Os as entrevistas acabarao sendo grandes furadas, ou voce vai trabalhar num emprego que odeia?
Nao seria melhor ser mais objetivo e mandar apenas 3 ou 4, e de repente ser chamado pra 1 ou 2 entrevistas (que potencialmente podera se transformal no tal emprego e chance)?
Ou seja, claro que vale a pena escrever um curriculo que ja esta ali atualizado e prontinho pra ser enviado, mas encare esse exercicio como um “work in progress”, uma base de rascunho que pode facilmente ser adaptada e modificada para diferentes situacoes (vagas, empresas, industrias, paises etc), e nunca encare seu curriculo como um documento final, estatico e infelxivel – se seu perfil, experiencia e carreira nao sao assim, porque o seu curriculo deveria ser?!
Outros posts que complementam a ideia e dao outras dicas (todos estao na tag “Recursos Humanos”)
– (Mais) Dicas para entrevistas
– Como desenvolver a carreira “Internacional”
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