Durante muitos anos da minha vida, conhecer a Russia era um sonho! Até que ao viajar pela primeira vez pra Moscou, a realização do sonho veio com um pouco de fascínio e decepção.
Fascínio, porque de certa maneira a Russia era aquilo tudo que sempre imaginei: suntuosa, imponente, colorida e unica.
Mas com uma grande dose de decepção também, porque viajar pra Russia não é fácil. As dificuldades começaram pelo pedido de visto (minha primeira viagem pra Moscou em 2007 foi antes do acordo entre Brasil e Russia de isenção de vistos), que te da aquela impressão de que o pais esta fazendo de tudo pra impedir a sua visita!
E ainda veio as dificuldades de comunicação, o choque cultural das pessoas tao sisudas. Difícil explicar, mas na época o que ficou na memoria foi aquela sensação de que você, o turista, simplesmente não é bem vindo ali, e esta fazendo alguma coisa errada pelo simples fato de visitar o pais.
Uns anos depois, tive a oportunidade de voltar a Moscou numa viagem a trabalho, e em parte foi uma boa segunda chance: dessa vez era verão e a cidade estava colorida, florida e bem mais animada, o que não da pra negar que tem um efeito notável no humor das pessoas.
Mas de maneira geral, ainda assim Moscou é uma cidade “estranha” de ser avaliada, porque o que tem de lindo, tem de muito feio. A praça vermelha, a catedral de Sao Basilico e o Kremlin são tao incríveis que na verdade parecem uma montagem cenográfica no meio da cidade e seus blocos de arquitetura socialista. Não da pra negar que o contraste é gritante entre o que Moscou tem que bonito, e a realidade da cidade.
Mas ainda assim eu morria de vontade de conhecer São Petersburgo, apesar dos pesares, e sabendo das dificuldades de visitar o pais. Mas sempre foi uma ideia “engavetada”, e depois de já ter visitado a Russia 2 outras vezes na vida, eu tinha outras viagens na prioridade da minha “lista”.
Mas a minha lista de viagens é totalmente flexível de acordo com oportunidades que vão aparecendo, e caçar promoções, analisar voos e planejar viagens é praticamente um esporte pra mim! Então ano passado achei uma promoção de hotel e um ótimo voo entre Londres e St Petersburgo, unindo o útil ao agradável e perfeito para o feriado da Pascoa!
Mas confesso que já chegamos cheios de apreensões! Mas de certa maneira, acho que já conhecer o pais e ter uma ideia mais realista sobre o que esperar ajudou a aliviar o choque cultural…
Para nossa surpresa, de cara St Petersburgo já se mostrou uma cidade bem diferente de Moscou: começando pela organização do aeroporto, a comunicação (em Inglês) um pouco melhor do que esperávamos, mas principalmente uma cidade mais arejada, mais bonita, mais bem cuidada que imediatamente nos fez sentir bem mais a vontade por la!
Mas antes de falar sobre o que nos fizemos por la, algumas dicas praticas:
– O visto pra Russia é o primeiro passo pra qualquer viagem pra la, e realmente é um saco! Brasileiros tem a vantagem de não precisar de visto, mas se você tem passaporte Europeu ou de outra nacionalidade (como no nosso caso, o Aaron que é Americano), o visto deve ser pedido com antecedência, e antes de pedir o visto você precise ter a viagem já marcada e o hotel reservado (o hotel precise te dar uma “carta convite” para a requisição do visto).
– A Russia não é um pais barato, e contrasta com o resto do Leste Europeu justamente por seus preços altíssimos. Mas por causa da crise politica atual, a moeda local, o Rubles Russo está super desvalorizado, o que acabou deixando tudo beeeeem mais barato que o normal, o que acabou afetando nossa viagem também (pra melhor, claro), pois certas coisas ficaram mais acessíveis, justamente por causa da desvalorização do Rubles.
– O Aeroporto de St Petersburgo foi reformado recentemente e está novíssimo e super bem preparado, com muitas lojas, restaurantes, área para crianças, e um ótimo free shop na área de embarque.
– A melhor maneira de chegar do aeroporto ao centro de St Petersburgo é de táxi oficial do aeroporto, que são subsidiados e regulamentados pelo governo (logo mais baratos e mais seguros do que taxi de rua). Logo na chegada em St Petersburgo, na área de desembarque do aeroporto a primeira coisa que você vê quando a porta se abre (depois de retirar suas malas) é o balcão de táxi. O preço para o centro da cidade é fixo em 1000 Rubles (que na época, por causa da desvalorização da moeda, deu cerca de 10€).
Você pode pagar em dinheiro ou cartão de debito/credito e na hora já recebe um recibo com comprovante de pagamento e um código que identifica qual seu carro, assim facilitando a comunicação com os motoristas (que não falam nem “oi” em Inglês ou outras línguas), que recebem a informação já certinha sobre onde você vai, qual endereço etc. Super fácil e bem em conta!
É importantíssimo levar o endereço de seu hotel (ou restaurante, ou algum lugar específico que você queira visitar) em alfabeto cirílico com você o tempo todo – é fácil de achar na internet, mas você também pode pegar o cartão Cirílico do seu hotel, ou pedir pra recepção anotar os endereços pra você (é a unica maneira de se comunicar ocm taxistas, guardinhas na rua, bilheteria de museus e afins).
Existe também a opção de pegar transporte publico (foi o que fizemos em Moscou, por exemplo), mas justamente pela péssima experiencia que tivemos em Moscou uns anos atras, dessa vez decidimos que por 10€ o conforto e a segurança valiam demais a pena!
A corrida de táxi entre o aeroporto e nosso hotel (ficamos no W Hotel, bem atras da catedral St Issac) demorou exatos 30 minutos.
– No geral achei St Petersburgo bem mais tranquilo de passear e andar pela cidade, e fizemos praticamente tudo a pé (só pegamos um táxi quando fomos num palácio que fica for a do centro da cidade).
Como a cidade é relativamente “nova” (só foi fundada no século 18), ela é mais bem planejada e organizada do que Moscou por exemplo, alem de ter ruas e avenidas mais largas e arejadas, muitas praças e parques. Apesar de ser dividida em bairros/distritos que na verdade são ilhas, a cidade é toda conectada por pontes e é tudo bem pertinho e fácil de achar (rola uma vibe meio Estocolmo, ou Amsterdam, ou Veneza de ser na cidade). Algumas estações de metro são tao famosas por sua beleza quanto as estacoes de Moscou, mas nem chegamos a precisar usar nada de transporte publico, pois realmente é muito fácil andar a pé por St Petersburgo, e nisso, nossa hospedagem bem no centrão foi essencial.
– Viajar pra Russia, como já era de se imaginar, trás um certo risco na questão clima – e São Petersburgo consegue ser ainda pior que Moscou, por estar mais ao norte (a cidade fica na mesma linda longitudinal que Helsinque, a capital da Finlândia!) e de cara com a baía do Báltico (pense: ventos cortantes, mar congelado, muito gelo e neve por muitos meses ao ano).
Apesar de termos ido na “primavera” (meados de Abril), ainda assim pegamos entre 0 e -5 graus e muita chuva e neve (mas a neve “feia”, que não acumula branquinha e deixa tudo gelado, molhado, cinza e coberto de gelo! Horrível!). Mas o verão na Rússia, por incrível que pareça é ótimo, com bastante sol e muitas, muitas horas de luz todos os dias, que faz com que qualquer viagem incrível!
(E claro, o oposto acontece no inverno, principalmente por estar tão ao norte do globo – visitar São Petersburgo no inverno significa uma média de 5 a 6 horas de luz “do dia” por dia – ou seja, duplique o tempo que levaria para conhecer a cidade nessa época!
– No quesito segurança, a Russia também leva uma péssima fama. O país é grande demais, as regiões são muito desbalanceadas socialmente, são muitas raças, “tribos” e facções agrupadas sobre o mesmo “teto” da gigante Russia, mas que tem pouco a ver entre si, culturalmente (a imagem que temos dos Russos “loiros de olhos azuis” só é realidade na parte Oeste do país, que tem raízes eslavas. Já o resto do território engloba Sibérios, Mongóis, Kazaks, e por aí vai.).
(Infelizmente) existem muitas similaridades com o Brasil nesse ponto: essa sociedade tão desigual gera conflitos internos, e a disparidade econômica significa que o país reúne alguns dos principais bilhardários do país, ao mesmo tempo que tem uma população descomunal à beira da fome (agora imagina passar fome num inverno de -50 graus?! Pois é!).
Mas enfim, isso tudo pra dizer, que sim, São Petersburgo não é um lugar super seguro não. Certas ruas, nós simplesmente não tivemos coragem de andar, e depois de ter sido perseguido na primeira noite na cidade (o Aaron saiu do hotel pra fazer umas fotos e eu fiquei com a Isabella no quarto), e ter voltado correndo com o tripé como “arma” à mão, nos outros dias só saímos do hotel a noite com táxi já reservado pra ida e volta, ou então ficamos pelo W mesmo, curtindo o bar ou restaurante do hotel, pra não se estressar.
Não sei se ocorreria uma violência propriamente dita, mas ouvi (inclusive de leitores aqui no blog e no Insta) muitas histórias de furtos e batedores de carteira, então toda atenção é necessária.
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